sábado, 6 de agosto de 2011

O Código Aberto Conhecido como Cristianismo (8)

Post nº 8 da série homônima do blogger Volney Faustini.

O cristão nesta perspectiva é tudo menos o tipo domesticado. Ele é radical, selvagem, livre e gonzo. Essa é a perspectiva do Cristianismo Código Aberto.
A grande perda que a igreja promoveu nos últimos tempos (pode ter alcançado mais de um século), foi a da figura coadjuvante do cristão. Isso sem antes, ter perdido Jesus em seu papel principal.
Em seu intento de prender e engessar o novo convertido em maneirismos, ritos e liturgias (eclesiásticas ou não), a igreja foi despindo-o do essencial e enfatizando o periférico. Com um receituário comportamental, foi moldando o sujeito à imagem de seus pares mais antigos. Prestando atenção nos efeitos finais de seu comportamento (o que falo, como falo, o que visto, o que faço ...) a igreja abandonou de vez a própria Bíblia, a Jesus como figura central e inspiradora, colocando em seus membros a responsa última de construir uma cultura totalmente desligada da realidade e da relevância diante de Deus e dos homens.
A leitura da Palavra é feita utilizando-se de hábeis filtros, com esquemas de parcialidade e interessadamente debaixo de uma agenda que perpetua a tradição acima da essência, a letra acima do espirito. O uso e a leitura da Bíblia tem sido perniciosamente enviesada. As escolhas são cuidadosamente pinçadas com cirurgias milimétricas. Manobras, contorcionismos, malabarismos ... tudo para desviar do Principal e se ater ao secundário e terciário. Isso quando nos deparamos com a melhor das situações!
Qual dentre nós consegue ler Mateus 23 sem se identificar com a situação presente?
Confesso que pessoalmente tenho sido complascente e conivente com o status quo da liderança e do denominacionalismo – e por consequente do institucionalismo – promovendo direta e indiretamente o farisaismo tanto condenado por Cristo. E contribuido no passado com a manutenção de uma religião debaixo da cultura da igreja e distante do Reino de Deus!
Prometemos uma coisa e entregamos outra! "Venha como você está" dizemos ao evangelizado, para em seguida dar-lhe um fardo que nós mesmos não conseguimos nem carregar nem suportar!
Desde quando seguir a Cristo é o mesmo que ser um bom membro de igreja? Desde quando a atividade eclesiástica substitui a vitalidade espiritual? Desde quando a gorda e imóvel cultura do clube igreja consegue atender as demandas por compaixão, de servir a comunidade, de cuidar dos pobres e de promover a justiça?
Há que se resgatar nossos irmãos - presos à religião de código fechado – que mata a vida, elimina a transformação pessoal que vem com o Espirito Santo, e extingue qualquer sombra da glória de Deus. Há sim, que promover o próprio Cristianismo Código Aberto, que trata do filho pródigo que retorna em celebração, alegria e liberdade. Há que se promover o cristão gonzo – liberto e genuíno, verdadeiro e vivo.
Não sei que passos tomar, que caminho prático seguir – mas sei os que definitivamente não trilharei.

O Código Aberto Conhecido como Cristianismo (9)

Post nº 9 - e o último - da série homônima do blogger Volney Faustini.

Os quatro Evangelhos servem-nos para situar Jesus Cristo na história, centralizando desde o seu nascimento até a morte e ressurreição - como atos definidos por Deus e necessários para nos trazer a salvação.

É importante notar que somente em Marcos, provavelmente o mais jovem entre os evangelistas, faz-se a abertura de sua escrita com traços de teólogo, contextualizando a história com o ensinamento a ser tirado dela:

Princípio do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
E em seguida cita Isaías, dando seqüência em sua narrativa aos acontecimentos e à trajetória da vida de Jesus. Por Evangelho, quer dizer o anúncio de boas notícias.

Sem diminuir a importância do significado da salvação em si, creio ser um aspecto extremamente importante focarmos na tão esquecida ênfase de que o Evangelho tem a ver com o Reino de Deus. Na verdade estão vinculados (salvação e Reino) e não podem ser separados. Ao separar, fecha-se o código.

Uma das desculpas para fechar o código é que o Evangelho não pode ter conotação política. Ou seja, o Reino de Deus não estava na mesma dimensão do império Romano. Certamente. A dimensão é outra: muito superior, mais abrangente e não limitante.

Quando se fecha o código, se inferioriza, se restringe e se limita.

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Para melhor trazer a ponto o significado de Reino de Deus, buscamos um momento de pico e climax na narrativa dos Evangelhos. É melhor percebida em Lucas (4:14-30).

É claro que é importante o Seu nascimento (celebraremos mês que vem), é importante a Sua vida (como Obra), e é igualmente relevante o Gólgota (o monte da caveira), a Cruz, o Seu sepultamento e a Sua ressurreição (com seus aparecimentos públicos até subir aos céus). Cremos nisso, sem dúvida. São pilares da fé cristã.

Mas o trecho aludido tem uma força própria - e é por muitos superficialmente entendido:

O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor.
Jesus havia aberto o rolo de Isaías, achado esse trecho, lido em voz alta, e em seguida proferido: "Hoje se cumpriu a Escritura que voces acabaram de ouvir."

Para mim está aqui a adequação correta e objetiva do Evangelho: o Reino de Deus!

Creio que se lermos e meditarmos atentamente, fazendo ligações com a lei Mosaica, passando pelos trechos de Salmos e citações dos Profetas - entenderemos verdadeiramente o sentido do código ser aberto e o Evangelho ter uma característica integral - una, indivisível!

É por isso que o Evangelho é inclusivo, foca os pobres, traz perdão e anistia, transformação e ação social e consolida esperança. O Evangelho que verdadeiramente temos é radical e libertador!

O Código Aberto Conhecido como Cristianismo (7)

Post nº 3 da série homônima do blogger Volney Faustini.

Um outro aspecto do Cristianismo Código Aberto, e quiçá a lhe dar sentido, refere-se ao nosso relacionamento com Deus.
Se de um lado não existem amarras, e a graça se manifesta plenamente rompendo segredos, obliterando esforços e eliminando distâncias, de outro a abertura pressupõe acesso.
É por isso que a individualidade no Cristianismo é tão importante. Tem tudo a ver comigo. O ponto de partida, a casa zero, sou eu. A largada inicia-se em mim.
Tudo o que aconteceu antes e fora de mim diz respeito à ação soberana de Deus que culmina em Jesus na cruz, na morte e na ressurreição.
A partir de mim, uma vez a graça manifesta – 'quando fui sequestrado por Jesus', de acordo com Manning, o processo de relacionamento principia de maneira individual e indivisa. Até por que, aquele que foi sequestrado sou eu.
O bom relacionamento está para o tempo e a qualidade de minha dedicação em reflexão, oração e meditação na Palavra. Não se trata de um 'gastar tempo em leitura', mas sim em se relacionar com o Mestre e amá-Lo. Talvez aqui muito do verdadeiro Cristianismo tenha sido perdido. É nesse ponto que devemos focar com clareza. Conversão, nascer de novo, vida nova, filho, receber o Espírito Santo - tem a ver com comunhão e relacionamento.
O ponto vital portanto é o cuidar de si, em primeiro lugar. E ser cuidado é estar ligado ao Pai.

O Código Aberto Conhecido Como Cristianismo (6):

Post nº 6 da série homônima do blogger Volney Faustini.

Como o código permaneceria aberto, a despeito das forças contrárias?

O risco de se fechar o Código do Cristianismo não viria pelo inimigo de nossas almas. De longe, Deus havia estipulado limites: “... as portas do inferno não prevalecerão contra ela (a igreja)”.

O risco maior estava nos próprios crentes. Vemos isso nas cartas paulinas – basta repassar as introduções de cada uma delas. São escritas para os amados, para os santos, às igrejas, à igreja de Deus, aos santificados, aos fiéis irmãos ... Já nas cartas de Pedro, ele se dirige aos eleitos que são forasteiros e aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa ...João utiliza um tom ainda mais pessoal, dirigindo-se a filhinhos, à senhora eleita e seus filhos ... Mesmo Tiago que mantém um caráter mais impessoal em sua carta se dirige às doze tribos da dispersão.

Ou seja, iniciamos pelos Evangelhos, onde encontramos o relato vivo de Jesus, suas falas e sua história – em detalhes suficientes para que sejamos impactados e transformados pela notícia de tão grande salvação. No livro de Atos dos Apóstolos somos que direcionados a compreender a expansão do Reino no âmbito físico e geográfico, com as atuações resignadas de mártires e de nossos heróis da fé cristã. E a partir daí, nas diferentes cartas somos ensinados nos desdobramentos e significados da fé – sempre no âmbito de comunidades.

Nosso maior desafio portanto está em manter a chama acesa do Corpo de Cristo no sentido comunitário. E para isso Jesus deixa a chave para que o código permanecesse sempre aberto: “onde estiverem dois ou três em meus nome ...”

Se de um lado refletimos e repensamos a forma e a maneira de se fazer igreja – recusando a predominância institucional sobre a simplicidade e franqueza da comunidade, somos instados a permanecer como comunidade. E a sempre sermos comunidade. Somente assim o cristianismo terá valor verdadeiro. Só assim haverá manifestação real e verdadeira de Jesus – e a manifestação d’Ele vivo e em sempre abundante amor.

A chave reside bem aí – no amor!

Como manifestar amor aos outros se não estivermos com mais gente? Como ser comunidade se pelo menos três não estiverem reunidos? Como imitar a Cristo que amou e deu de Si? Como obedecer a vontade de Deus de amar aos outros?

Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. (João 13:34)

O Código Aberto Conhecido Como Cristianismo (5)

Post nº 5 da série homônima do blogger Volney Faustini.

O Cristianismo em suas manifestações iniciais, logo após a ascensão de Cristo, alcança o mundo. Em diferentes localidades, conforme descrito no livro de Atos dos Apóstolos, judeus e gentios aceitavam a mensagem do Evangelho e partiam de volta para suas cidades. As Boas Novas que Cristo morreu na cruz, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, sendo nosso substituto e nos salvando, alcança a Oeste o Egito e a África, e a Leste a Ásia Menor, Grécia e Europa.

O momento da Páscoa e das celebrações agiam de maneira positiva para carregar e transmitir o ‘vírus’ da paz e amor em Deus. Daí que as cartas neo-testamentárias – em sua maioria – são dirigidas às igrejas formadas em localidades específicas, Roma, Corinto, Galácia, Eféso, Filipo, e assim por diante.

Fica claro diante disso, que a força da igreja (e sua grande característica) reside na comunidade que representa: os santos. Assim vemos que a igreja não dependia de paredes ou algo físico para se configurar como tal. É claro que se reuniam. Mas o objetivo era para estarem juntos, não o de se ter um lugar para se encontrar.

O Cristianismo Código Aberto, que abria seus braços, recebia convertidos e atuava como comunidade, não tinha tempo nem foco para sair de sua missão e construir uma tenda ou um lugarzinho especial.

Foi a partir das construções de igrejas e templos que o código começou a se fechar.

O Código Aberto Conhecido como Cristianismo (4)

Post nº 4 da série homônima do blogger  Volney Faustini.

O processo de abertura do código inicia-se no discípulo, ao atender o chamado de Jesus:

"Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me."

Ali está a revelação do mistério de Deus - o próprio Deus encarnado, feito homem - deixando as bases claras e transparentes para o início de uma jornada espiritual, livre da religião e aberta totalmente para o Pai. Não há floreios, não há estrategemas vendedores, não há subterfúgios. O que se tem de maneira direta é o discurso bruto e realista: negação de si, tomar o instrumento de maldição e tortura (antes dEle te-lo feito!) e com a viga transversal nas costas segui-lo.

Se é figura de linguagem, então é bem pior do que imaginamos. Pois no campo da natureza física entendemos a negação momentânea - quantas vezes não me fingi de morto, quer para depois dar o bote ou me revelar como de fato sou? Essa negação momentânea é traiçoeira, artificial e hipócrita.

Já na conclusão da metáfora - há que se ir à uma profundidade absoluta. Negar a si mesmo é dar adeus ao fechamento humano que fazemos dos outros, de nós mesmos e de Deus. Negar a si mesmo é dar lugar a Deus. Cristo reinando e sendo Senhor em nós é o princípio da espiritualidade aberta a Ele, e dEle para nós. Como poderá uma casa sobreviver a dois senhores? Impossível dividir esta morada central. Negar-se a si mesmo, é uma morte em si mesma. Mata-se o fechado para nascer o aberto.

A negação de si mesmo, é o contraponto da escravidão e do fechamento para a vida. Manter-me fechado comigo mesmo, à minha natureza e à ausência de Deus em mim, é morte. Escravidão e morte. Negar-me o meu eu, é liberdade, é fazer-me aberto para Deus. Aberto à revolução interior e aos efeitos que essa transformação pessoal vai trazer.

Tomar a cruz - diferente de se optar pelo caminho do sofrimento ou estar disposto a encarar as agruras da vida como conseqüência de ser discípulo de Cristo, é mais profundo. É radical - de ter o seu nascedouro na raiz. Somente pela morte de Cristo é que encontramos a paz com Deus. E somente com a nossa identificação em Jesus (morto na cruz) é que passamos a ser agentes dessa paz. A paz tem a ver com abertura. A guerra, a revolta, tem a ver com fechamento.

Siga-me, é o que vai caracterizar o cristão - à semelhança dEle, imitando-o, sendo igual a Ele, pois cedemos a nós mesmos para que o caráter de Deus nasce em nós e dê fruto em nosso viver diário. O fruto do Espirito é código aberto. É agregador, é de beleza, é de vida. Seguir ao Mestre é entender com clareza a missão que temos de transformar o mundo (não por nossa força - que seria fechado) mas pela força do amor e da compaixão. Seguir ao Mestre é valorizar e fortalecer a transformação pessoal (individual).

O discípulo ao seguir o Mestre, após ter sido abraçado e tocado por sua graça, inicia a novidade de vida debaixo do manto da liberdade, da paz e da transformação. E sua missão passa a ser de promulgar essa mesma abertura que um dia abraçou e que hoje lhe dá sentido à vida.

O Código Aberto Conhecido como Cristianismo (3)

Post nº 3 da série homônima do blogger Volney Faustini.

Tudo começou em Jesus. João, Pedro e Paulo e mais uns poucos - entre discípulos e new comers deram continuidade ao grande projeto concebido por Deus. A salvação do mundo, o cumprimento da grande comissão, a evangelização até os confins da terra, o indo ...

O cristianismo - que só mais tarde ganhou esse brand, com direito a peixinho e cruz em sua logotipia, deveria carregar em seu bojo a característica sempre revolucionária do código aberto.

O mistério (segrêdo) que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia se manifestou aos seus santos; (parentesis nosso) Colossenses 1:26

Era algo que parecia estar fadado ao exclusivismo judaico. No entanto arrebentava os muros de separação e do preconceito, para alcançar toda e qualquer criatura. Judeu e gentio!

aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória; Colossenses 1:27
A segunda Diáspora
Os acontecimentos do primeiro século da era Cristã se desencadearam num consequente efeito global para o Evangelho. Não somente as viagens missionárias de Paulo levaram a mensagem de salvação aos diferentes rincões da civilização, como convertidos judeus eram as sementes da multiplicação do Evangelho.

Na África Oriental, vemos a atuação do eunuco etíope - um convertido sem nome que após ter sido batizado retorna ao seu país cheio de júbilo. É possível (e aqui estou especulando) que seu nome tenha sido preservado para permitir que os esforços evangelísticos no palácio da Rainha e depois na Etiópia em geral, não fossem frustrados. Era a insubordinação em curso, 'pervertendo' a ordem reinante.

O Cristianismo Código Aberto ganha em seus recém convertidos, imediatamente fortalecidos pelo Espírito Santo, um impulso avassalador de adesões e entusiasmo - provavelmente nunca antes percebido em qualquer outro movimento social, e com uma relevância a toda a prova: a forma organizada de se apoiar e sustentar os mais pobres e menos favorecidos. Ou seja, apesar de subvertidos, dão a volta por cima e fazem o que nem Estado, Governo ou Imperador conseguem realizar.

Mesmo na controvérsia judaizante acerca dos convertidos gentios, há uma liberação de autonomia visando preservar-lhes o que na essência eram por não serem iguais (não-judeus). Ao enfatizar o que deviam abandonar como procedimento - os quatro rituais pagãos - ligados à uma religião código fechado (que acabavam de abandonar), lhes era franqueada liberdade. Aos irmãos mais velhos, a ordem era para que parassem de pertubar e transtornar a alma desses irmãozinhos (Atos 15:24). Em Paulo e Barnabé a mensagem do Código Aberto é selada e enviada a Antioquia, Síria e Cílicia.

Babel Teológica
Já nos primeiros séculos, a falta de alinhamento em questões doutrinárias acabam trazendo divisões e cisões entre os irmãos. Mas há nesse retrocesso, um outro lado da moeda que é a própria multiplicação de convertidos e o crescimento da cristandade. Mesmo quando se olha com cuidado as diferentes ordens religiosas - promulgadas desde o início dos relatos históricos da igreja, vemos dezenas de iniciativas. Homens e mulheres se esforçando em suas vocações de maneira autônoma e independente.

Se - conforme o relato em Gênesis, na Babel das diferentes línguas, o povo se dispersa e abandona a construção da torre, aqui na seqüência de Atos 28, a confusão causada pelas diferentes formas de se abraçar a fé, espalha os cristãos e faz o Evangelho crescer.

O bom é inimigo do ótimo

Há no entanto um grande revez em Constantino para o Cristianismo. O que parecia uma excelente iniciativa (um golpe de gênio): institucionalizar a fé - é na verdade uma grande subversão. O código tem que ser livre e permanecer solto. A inconsistência de tal medida servirá como breque ao crescimento genuíno do Evangelho e será um duro golpe à sua vitalidade. Cessa o vigor do código aberto.

O Código Aberto Conhecido como Cristianismo (2)

Post nº 2 da série homônima do blogger  Volney Faustini.

O primeiro grande evento, sem a participação direta de Jesus, na história do Cristianismo - e como veremos a seguir, a fortalecer a tese do Código Aberto, aconteceu imediatamente após a sua ascensão. Quando veio Pentecostes - 50 dias após a Páscoa e detalhadamente relatado em Atos 2, avança-se em sua cristalização.

Todos ficaram cheios do Espirito Santo e começaram a falar noutras línguas conforme o Espírito os capacitava.

Jerusalém, por ocasião das festividades se tornava um espécie de ONU, vindo gente de todas as partes do mundo.

Partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, Judéia e Capadócia, do Ponto e da província da Ásia, Frígia e Panfília, Egito e das partes da Líbia próxima a Cirene, e visitantes vindo de Roma tanto judeus como convertidos ao judaismo, cretenses e árabes.

Eis a ocasião mais que oportuna para inverter o efeito Babel, com a descida do Espirito Santo. A única 'religião' - a verdadeira e exclusiva emancipadora da Graça, anula o símbolo da busca aos Céus em torres construídas por homens, escadas que intentam alcançar Deus - no meio de uma confusão de línguas, comunicação e atitudes. Eis que agora o processo real e do Deus manifesto é Babel ao contrário: Deus descendo, dando línguas para entendimento e constituíndo naquele início da era do Espírito Santo, um efeito viral. Um contágio que deixava perplexos e maravilhados seus ouvintes. O impacto era fulminante em cada um daqueles a quem a Mensagem era apresentada. O Código Aberto ganhava força e determinação.

Nós os ouvimos declarar as maravilhas de Deus em nossa própria língua.

Babel fôra divergente. Pentecostes é convergente.

Mesmo quando se chega ao final deste capítulo 2 de Atos, a narrativa é uma prova cabal do poder transformador do verdadeiro e genuíno Cristianismo: aberto, livre, acessível, convidativo, includente, gratuito, alegre, simpático, festivo, e (por último e não menos importante) amoroso. Homens e mulheres adentravam na era da graça e do amor. A comunidade e os 'Códigos Abertos' eram assim descritos:

. Tinham coisas em comum
. Distribuiam valores de acordo com a necessidade
. Todos os dias se reuniam
. O pão era partido nas casas
. Havia participação de refeições com alegria
. Louvavam a Deus
. Conquistavam a simpatia do povohttp://volneyf.blogspot.com/2008/05/cristianismo-cdigo-aberto-2.html

O Código Aberto Conhecido como Cristianismo

Série de Posts do genial Volney Faustini.

No exato momento em que Cristo deu seu último suspiro (entregou o espírito) expirando na cruz, "... o véu no santuário do templo se rasgou em duas partes de alto a baixo ..." (Mateus 27:51), deixando o Santo dos Santos desprotegido. Conforme o Comentário Judaico do Novo Testamento (Editora Atos) isto "simbolizou o fato de que Deus estava dando a todos o acesso ao lugar mais sagrado de todos no céu conforme ensinado em JM 9:3-9; 10:19-22" (Carta aos Judeus Messiânicos = Hebreus).

A sua morte inaugura um novo tempo. Numa linguagem mais para os tempos cibernéticos, a sua morte dava início à religião do Código Aberto: a redenção somente por graça, mediante a fé, salvação a todos os que crêem, reconciliação total com Deus. Inaugurou a era do sacerdócio universal - onde todo e cada um que crê, tem acesso à sua presença.

O Código Aberto vinha sendo prenunciado nos encontros com Nicodemos - nascer de novo é um ato individual e inaugurativo para quem crê, e com a Mulher Samaritana - a água que eu lhe der matará sua sede. Nascer e beber água eram atos gratuitos e individuais. Era um código aberto - sem restrições.

O Código Aberto se consagra com a Ascensão de Cristo: mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espirito Santo ...

O Código Aberto vai se espalhando com a conversão de Saulo - o perseguidor (aquele que queria manter o Código Fechado), e logo no capítulo seguinte ao atender a visão dada a Pedro de testemunhar aos Gentios, vemos Cornélio e seus familiares se tornando os primeiros não judeus a fazerem parte da família de Deus. "Ele não faz acepção de pessoas ... todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados" (Atos 10:34 e 43). E "sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo" (Atos 10:45).

Ao longo dos séculos desde os tempos do Antigo Testamento até a era moderna a história do povo de Deus e do cristianismo é um relato claro e contundente de um Código Aberto, com seu clímax sendo a mensagem libertadora de Cristo que precisa e deve alcançar a todos. O Código Aberto é para todo o homem e o homem todo.

Coração Iluminado Com A Luz Da Suprema Sapiênicia

Este post é originalmente do Daniel Grubba, mas usarei estas palavras como se minhas fossem.
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É triste, mas a maioria dos cristãos ainda mantém o péssimo hábito de colocar uma cunha entre a devoção piedosa a Deus e a ortodoxia do pensamento. Costumam nos dizer que a fé e a razão são antagônicas e não podem dividir o mesmo espaço. Mas houve um tempo em que não era assim. A história do cristianismo está cheia de exemplos de cristãos fervorosos que eram intelectuais de primeira grandeza, ao mesmo que nutriam grande devoção a Deus. Podemos citar Agostinho, Lutero, Calvino, Jonathan Edwards, e muitos outros.

Penso que se desejamos ser luz do mundo e sal da terra em nosso tempo, então uma coisa não pode existir sem a outra. Uma fé de grande devoção e afetos apaixonados que não busca profundidade de pensamento pode tornar-se uma fé “água com açúcar”. Assim como um pensamento de amplitude exponencial, sem a chama do Espírito, é semelhante ao vapor que logo se desvanece. O emocionalismo e o intelectualismo são dois extremos que devemos evitar caso tenhamos em nossos corações o desejo de sermos adoradores que adoram em espírito e em verdade. O pastor e teólogo John Piper resume bem o que quero dizer. Ele diz:

"A adoração precisa ter coração e cabeça. Ela tem de envolver as emoções e o pensamento. Verdade sem emoção produz ortodoxia morta e uma igreja cheia de admiradores artificiais. Por outro lado, emoção sem verdade produz agitação vazia e cultiva pessoas superficiais que rejeitam a disciplina do raciocínio exato. A adoração verdadeira, porém, vem de pessoas com emoções profundas, grande amor e doutrina sadia. Afeições fortes por Deus, arraigadas na verdade, são ossos e medula da adoração bíblica".

A Ascenção Sem Trégua Das Testemunhas, Ou O Legado Das Cartas Vivas ao Mundo


Este post foi retirado do relicário do Brabo.

O verdadeiro gancho entre a conclusão do evangelho de Lucas e a abertura do livro de Atos dos Apóstolos não está na promessa do derramamento do Espírito (Lucas 24:49, Atos 1:4,5) nem na ascensão de Jesus (Lucas 24:51, Atos 1:9). Para Lucas, autor dos dois livros, o elo espiritual entre as atividades de Jesus e as iniciativas dos apóstolos pode ser expresso numa única palavra-chave: testemunhas.

Os primeiros parágrafos de Atos são uma recapitulação estendida das cenas finais de Lucas. Jesus reitera que os apóstolos permaneçam em Jerusalém até que “recebam poder do alto”, depois do que deverão “ser minhas testumunhas em Jerusalém, Samaria e até o confim mais remoto da terra”.

A chave para a compreensão desta ênfase está nos versos finais do evangelho de Lucas. Jesus, ressucitado, apresenta-se de forma palpável aos discípulos (“vejam, um fantasma não têm carne e osso, como vocês vêem que eu tenho”) e come com eles. Então, antes de partir, o rabi da Galiléia explica-lhes uma última parábola, a sua. Pela interpretação da Escritura, Jesus demonstra que Moisés, Salmos e os Profetas declaravam de antemão tudo que de fato sobreveio ao Filho do Homem na terra, particularmente seu suplício e ressurreição.

– E disso tudo – ele conclui, – vocês são testemunhas. (v.48)

Vocês são testemunhasSejam testemunhas. Este é o fio, puxado da conclusão do seu evangelho, que Lucas estende, como se verá, de ponta a ponta da parte dois.

É necessário observar que Mateus e Marcos imprimem outra ênfase a esta mesma cena final. A última ordem-chave de Jesus, na pena desses evangelistas, não está em “sejam testemunhas”, mas em façam discípulos – isto é, “saiam pelo mundo fazendo seguidores, ensinando-os a colocar em prática tudo que tenho ordenado a vocês”.

E “ser testemunhas” pode não ser o mesmo que “fazer discípulos” – ou, pelo menos, as duas coisas foram historicamente interpretadas como distintas. Na prática lemos as duas ordens como essencialmente diferentes, ao ponto de representarem para nós heranças contraditórias.

Cristãos de todas as estirpes acabaram seguindo a herança “sejam testemunhas” de Lucas, de Atos e de Paulo (ou pelo menos aquilo que julgamos ser a herança deles), em detrimento do “façam discípulos” de Mateus e Marcos. Para nós, propagar o evangelho diz muito mais respeito a “testemunhar do que Deus fez por nós” do que “ensinar as pessoas a colocar em prática o que Jesus ensinou”.

Resta ponderarmos como seria o mundo se tivéssemos seguido esta segunda herança, mais radical, ao invés da primeira. Ou, ainda mais importante, ponderar se de fato existe alguma diferença entre as duas.

O livro de Atos pode conter, paradoxalmente, as duas respostas.

Parapsicologia e Dualismo Radical


Do blog Parapsi..

fonte ORIGINAL: Parapsychology and Radical Dualism


por John Beloff
26ª Convenção anual da Parapsychological Association realizada na Fairleigh Dickinson University em Madison, New Jersey, agosto de 1983.

Resumo

Tendo num artigo anterior fornecido as minhas razões para duvidar se existiria uma explicação física para psi, eu agora começo a estudar novamente o tema neste artigo e a discuti-lo, visto que ele descarta o fisicalismo - a doutrina que todo evento real deve ter uma explicação física - a existência de psi, se ela existir, deixa-nos sem opção viável, exceto o dualismo radical - a doutrina que o domínio da mente é radicalmente diferente daquele da matéria.

* * *

Por "dualismo radical" falo da visão que a mente e a matéria denotam domínios distintos de natureza que, não obstante, interagem reciprocamente em certos pontos críticos. Eu uso este termo, de preferência, para o mais familiar "Dualismo Cartesiano" a fim de evitar aquelas críticas ou má-interpretações que podem estar presas a própria formulação do problema de Descartes.

O dualismo radical, deste modo, está em oposição à visão de que a mente não é mais do que um aspecto, uma função ou um atributo de certa atividade cerebral. Nesta última posição, enquanto os conceitos mentais podem bem ser necessários, se nós estivermos conversando sobre intelegibilidade de nossas próprias experiências e comportamentos (ou dos outros), os conceitos mentais podem não ter nenhuma força explicativa, visto que tudo que fazemos, dizemos ou pensamos são, no final das contas, dependentes dos estados cerebrais concebidos como um sistema puramente físico.

Nós podemos chamar esta posição de fisicalista, pois é baseada na idéia de que toda explicação, em último caso, repousa nas Leis da Física, e é, indiscutivelmente, a posição ortodoxa sobre a relação mente-cérebro na atualidade em neurofisiologia, psiquiatria, psicologia experimental e, até, na filosofia da mente, seja qual for o país de língua inglesa. Esta posição deve ser diferenciada do materialismo puro, este é a idéia de que não existe nenhuma dessas coisas como mente ou que processos mentais são redutíveis, sem deixar vestígios, aos processos físico ou comportamental.

O materialismo puro é, sustento eu, um erro filosófico, e assim não chega nem mesmo a ser uma alternativa autêntica. A escolha, como a entendo, está entre o dualismo radical e as formas mais fracas de dualismo as quais apenas negam qualquer autonomia do componente mental do organismo psicofísico. Igual ao idealismo, a idéia de que só a mente existe, que é a única outra opção monista, apesar de ser logicamente inexpugnável, é tão fantástico que existem hoje poucos idealistas explícitos, embora, como veremos, ele suporta um bom tratamento no pensamento corrente no que se refere à interpretação da Física moderna.

A tese que vou tentar defender neste artigo é que, se admitirmos a existência dos fenômenos psi, a posição fisicalista ortodoxa se torna muito difícil de ser sustentada e o dualismo radical então se torna a alternativa mais plausível. Contrariamente, se nós rejeitarmos ou ignorarmos a existência dos fenômenos psi, então, ainda poderão existir boas razões filosóficas para se duvidar da verdade do fisicalismo, embora percamos as únicas bases empíricas que temos para desafiar a posição "ortodoxa".

Isto é importante porque o fisicalismo alega representar o ponto de vista científico e delinear o suporte dos avanços na fisiologia cerebral e na inteligência artificial, considerando que o dualismo radical aparenta, por contraste, ser tão antiquado, não-científico e estéril. Minha tese não é, claro, nova. Pelo contrário, ciente de sua existência, uma das mais poderosas reivindicações da pesquisa psíquica era justamente a possibilidade de se justificar a autonomia da mente em oposição àquilo que parecia ser ensino da ciência. Não obstante, ela é uma tese que é constantemente contestada, e não menos pelos críticos que são parapsicólogos ativos.

Eu não faço nenhuma apologia, conseqüentemente reescrevo o caso para o dualismo radical a minha maneira, dada a realidade de psi. Obviamente, no espaço disponível, espero contestar todas as possíveis objeções que puderam ser trazidas contra minha tese, mas tenho esperanças em delinear atenção aos principais argumentos a favor dela.

O ponto crucial do argumento é o seguinte. Para minha tese ser falsa, nós teríamos que mostrar ou:

(a) que o fisicalismo poderia sobreviver ao reconhecimento dos fenômenos psi.

ou:

(b) que tais fenômenos, afinal, não envolvem quaisquer forças ou funções mentais especiais, conseqüentemente a existência deles, seja o que for o que eles implique, não fornece nenhum suporte para a doutrina do dualismo radical.

Conseqüentemente, se nem a proposição (a) e nem (b) podem ser apoiadas, minha tese permanece.

Vamos começar, então, com a proposição (a).

Aqueles que estudam o cérebro irão, creio eu, concordar que nada que aprendamos sobre o cérebro nos levaria a pensar que ele poderia ser capaz de cognição paranormal (ESP) ou de ação paranormal (PK). Por exemplo, enquanto muitos processos cognitivos já podem ser simulados usando-se um computador adequadamente programado, nós, obviamente, nem sequer saberíamos começar a idealizar como programar um computador para exibir ESP. Agora se poderia, é claro, argumentar que esta limitação é devida inteiramente ao estado rudimentar da neurociência existente.

Porém, eu proponho mostrar que esta limitação segue inevitavelmente das considerações mais fundamentais. Para fazer meu ponto, eu devo discutir o caso da telepatia, visto que, de todas as variedades dos fenômenos psi, amplamente se acredita que a telepatia deveria ser a mais condescendente para uma interpretação fisicalista. Em todos os eventos para se discutir precognição ou PK, neste contexto, apenas se comporia as dificuldades que o fisicalismo enfrentaria. Se, então, nós achamos que nem mesmo telepatia pode ser entendida em termos de atividades cerebrais, podemos nos sentir mais confiantes que o mesmo é verdade a fortiori para as outras manifestações de psi.

Vamos começar, então, ao se perguntar como, em comunicação normal, uma idéia na mente de A é transportada para a mente de B? Para esta pergunta a resposta não é duvidosa: isso é feito por meio da linguagem. A idéia é primeiramente expressa em alguma forma lingüística por A, usando um idioma que é tanto familiar para A quanto para B, os sinais são então percebidos propriamente por B que os interpreta como expressões da idéia original.

Vamos depois perguntar o que teria que haver se a comunicação telepática dependesse igualmente da transmissão de sinais físicos de algum tipo? Nós poderíamos imaginar que a idéia, adequadamente codificada no cérebro de A, foi de alguma maneira capaz de modular radiação que emana do cérebro de A que no tempo devido foi captada pelo cérebro de B onde foi propriamente processada e decodificada. Entretanto, a pergunta inevitável apresenta-se: como B conseguiu decodificar corretamente os sinais telepáticos relevantes?

Talvez B inatamente saberia o código apropriado ou ele, em alguma fase de seu desenvolvimento, aprendeu o código? Quaisquer das respostas reduz uma absurdidade. Como o cérebro poderia ser inatamente programado para reconhecer o equivalente codificado de alguma idéia que poderia surgir em uma mente ou cérebro de outra pessoa? E se a idéia em questão foi alguma criação humana que não existe no ambiente natural, como, neste caso, a evolução poderia ter equipado nossos cérebros para responder a tal conceito?

Obviamente o código telepático teria que ser adquirido da mesma maneira que adquirimos o conhecimento de nosso idioma nativo. Entretanto, quando, onde e como este conhecimento é adquirido? É necessário colocar esta pergunta a fim de se entender que tal aquisição, a qual em nenhum momento ficamos cientes, seria uma absurda ficção.

Além disso, ainda que assumíssemos que, em telepatia, não são as idéias, mas as palavras que são transmitidas (o que implicaria, incidentemente, que a telepatia nunca funcionaria através de uma linguagem diferenciada, uma vez que não entendemos nada mais perto para uma explicação). Para as letras ou fonemas codificados no cérebro de A serem transferidos para o cérebro de B, uma vez mais, nós teríamos que decidir se o cérebro de B era inatamente programado para reconhecer o equivalente codificado destes sinais lingüísticos ou se o cérebro deB adquiriu a capacidade de decodificá-los no curso de seu desenvolvimento e, assim, nós chegamos num impasse.

Uma objeção que poderia ser levantada neste momento - e eu estou em dívidas com Michael Thalbourne por trazê-la para mim - é a seguinte. Vamos supor que aquilo que está envolvido na comunicação telepática não é qualquer tipo de operação semântica, mas sim a transmissão de uma imagem, uma forma ou pode ser uma sensação. Afinal, muitos experimentos ESP sugerem que aquilo que é apreendido não é qualquer tipo de idéia conceitual, mas algum aspecto puramente formal da imagem ou cena alvos.

Vamos supor que A esteja pensando sobre ou olhando uma maçã. Como resultado disso, certos centros sensórios do córtex de A são excitados e estes poderiam ativar uma espécie de ressonância que então serviria para ativar centros sensórios correspondentes no córtex de B de forma que B se tornaria ciente de algo redondo e verde em seu imaginário visual.

Nós talvez poderíamos invocar a ressonância mórfica de Sheldrake como o mecanismo responsável. Isto não pode ser o tipo de física que um fisicalista daria boas-vindas, mas nós podemos deixá-la passar. Agora, porém, uma pergunta diferente nos pressiona: Como B é capaz de ressonar com o cérebro de A no lugar dos cérebros de C ou D ou, de fato, com o cérebro de qualquer outro vivo?

Certamente nada no conceito de Sheldrake sobre ressonância mórfica sugere uma resposta. Pelo contrário, a visão inteira da teoria de aprendizagem de Sheldrake é que as mudanças ocorridas num cérebro automaticamente facilita um aprendizado semelhante em todos os outros cérebros da mesma espécie, independente do tempo e do lugar.

Então, a menos que algum mecanismo pudesse ser sugerido para explicar o tipo de seletividade que a telepatia exigiria, nós não temos nenhum vislumbre de uma teoria física sustentável. Não existe, por exemplo, nada na situação que pudesse corresponder aos mecanismos de sintonia pelos quais um receptor de rádio capta a banda e o sinal aproximados de um canal específico de transmissão, o evidente fator na analogia da comunicação sensória claramente seria inaplicável no caso da telepatia.

As possibilidades de uma teoria física iriam melhorar se nós tomássemos a clarividência como o fenômeno crítico, no lugar da telepatia? Nós iríamos lidar no mínimo com um cérebro singular, um que presumivelmente teria de ser dotado com algum sistema de radar. As dificuldades aqui são de diversas maneiras. Ainda que a energia requerida estivesse disponível para operar tal sistema, ele somente funcionaria se o mapeamento irradiado pudesse ser adequadamente modulado pelo objeto alvo de tal modo que o sinal refletido pudesse então ser decodificado no cérebro do sujeito. Todavia, o único modo de esclarecer o que estaria envolvido é se tomássemos literalmente a analogia do radar para compreender o quão irrelevante ela é para o caso do teste padrão de clarividência onde está se lidando com fotografias ou símbolos dentro de envelopes.

Alguém de vocês pode, neste momento, sentir que eu já gastei muito tempo criticando um modelo de comunicação ESP considerando o quão poucos Parapsicólogos ainda o leva seriamente. Aqueles que ainda estão tentando achar uma teoria física de ESP tendem, hoje em dia, a orientarem-se para uma teoria quântica a fim de assinalar o caminho.

No nível subatômico, nós encontramos muitos fenômenos estranhos que fornecem contrapartes para os fenômenos que no nível macroscópico seriam julgados como paranormal, por exemplo, a propriedade conhecida como "não-localidade" que parece governar o comportamento de duas partículas as quais, embora não estão mais em contato, permanecem num estado correlacionado. ESP poderia exemplificar este princípio de não-localidade?

Mas a teoria mais compreensiva e desenvolvida de psi para tomar a teoria quântica como ponto de partida é a denominada teoria observacional. Ela é baseada na suposição que todo sistema físico persiste num estado de indeterminação até o momento em que ele for observado e então se tornar determinado. Tudo que nós podemos saber sobre tal sistema antes da intervenção de um observador é a distribuição de probabilidades com respeito aos possíveis valores que o sistema pode assumir quando for observado.

Se, então, permitimos a nosso observador o poder de influenciar aquela distribuição em uma certa direção, nós temos tudo aquilo, em princípio, que precisamos para responder por aqueles efeitos não-randômicos que identificamos como um efeito psi. Então tal observador é considerado representar uma fonte psi.

Se a teoria observacional é científica ou até logicamente sonora, se, como alguns críticos alegam, ela gera paradoxos insolúveis, se ele deriva de um erro interpretativo da teoria quântica, originando-se de uma metafísica idealista, todos são ainda assuntos de feroz controvérsia que talvez seja melhor deixar os peritos solucionarem. A questão que temos que considerar para nosso propósito presente é, se, considerando tal teoria legítima, ela forneceria uma explicação fisicalista para os fenômenos psi? Para responder a esta pergunta, nos será útil, primeiramente, perguntar o que exatamente nós somos, a fim de se entender o conceito chave de "observação"? Fazer uma observação necessariamente implica conhecimento consciente?

Ou, a observação pode ser executada por algum instrumento apropriado de registro, o qual podemos, neste contexto, incluir o próprio cérebro? Se a consciência é essencial - e os físicos, eu posso dizer, parecem estar muito divididos sobre o assunto na teoria quântica - então se segue que existe pelo menos uma função mental, qual seja, a percepção consciente, que possuiria um poder que não é propriamente do cérebro, que é o poder para produzir PK retroativa. E isto contradiz a tese do fisicalismo.

A tentativa de atribuir um significado físico para a consciência ao chamá-la de variável escondida (o que quer que seja que isso possa significar neste contexto) como E.H. Walker fez, parece-me implorar muitas questões para salvar a situação a favor do fisicalismo. Se, por outro lado, a consciência não é essencial, então ficamos sem qualquer explicação a respeito do que está nos cérebros que poderia fazê-los potenciais fontes psi. E, sem ao menos alguma indicação vaga de como a atividade cerebral poderia produzir PK retroativa, nada na teoria observacional emprestaria qualquer suporte para a tese fisicalista.

O colapso do fisicalismo que inevitavelmente deve seguir ao reconhecimento dos fenômenos psi não iria, porém, ser suficiente para estabelecer o dualismo radical, a menos que nós possamos mostrar que tais fenômenos são definitivamente atribuíveis à mente. Na atualidade existem vários modelos de psi que desafiam o que foi chamado de "paradigma psicobiológico". Eu tenho espaço aqui para considerar apenas dois (modelos) que acredito serem os mais influentes.

De acordo com uma escola de pensamento, que eu gosto de chamar Flewismo, em honra de seu articulador mais expoente, o filósofo inglês Antony Flew, nada de importância filosófica seguiria da mera existência dos fenômenos paranormais, a fortiori, nada de relevante para o problema mente-corpo. O argumento principal para o que isso apela é que paranormalidade apenas pode ser definida em condições negativas, em outras palavras é, justamente, o inexplicável dos fenômenos que os torna de interesse para o parapsicólogo. Mas, dessas características puramente negativas, nós não podemos esperar sair qualquer concepção positiva, na medida que isso nos levaria a chamá-las de manifestações da mente. Um argumento secundário destaca o caráter caprichoso e a imprevisibilidade dos fenômenos que os fazem muito diferentes das manifestações de qualquer outra conhecida habilidade ou destreza mental.

Flewismo tem uma plausibilidade superficial, especialmente para aqueles de visão positivística sobre a mente. O escore extra-acaso, como algumas vezes é chamado, é exatamente escore extra-acaso e nós não temos nenhum direito em extrapolar sobre tais anomalias estatísticas ao dignificá-las com conceitos como ESP.

Esta visão, porém, peca em alguns pontos cruciais. Eu tentarei ilustrar o que quero dizer com a ajuda de uma analogia. Do fato que alguém tenha sido oficialmente designado como um "estrangeiro", não segue que essa pessoa está sem identidade étnica. O que decorre é que, do ponto de vista científico oficial, é necessário que a paranormalidade seja definida em condições negativas em primeiro lugar e tratada como a descoberta pendente de uma anomalia relativa à natureza básica dos fenômenos em questão.

O argumento subsidiário dos Flewistas não faz melhor. A bem da verdade, é claro, que aqueles que são creditados com habilidade psi parecem ter pouco controle preciso sobre as manifestações dela. Mas psi não é, de modo algum, única a este respeito entre as potencialidades conhecidas das habilidades humanas. Nós temos muito pouco controle sobre nossas ocasionais intuições ou nossas inspirações criativas e nenhum sobre nossa habilidade de sonhar. Estes são todos aspectos vitais de nossa atividade mental, mas eles estão largamente à mercê de nosso inconsciente.

Realmente, poderia ser menos enganoso, se nos referíssemos a psi como um dom pessoal no lugar de uma habilidade, uma vez que a última pode sugerir destreza e performance, mas isto está muito longe de dizer que ela não é uma propriedade da mente.

Além disso, se deixarmos de lado o fato que esta suposta habilidade é, no estado existente do conhecimento, nem controlável nem treinável, nós encontraremos abundante evidência na literatura parapsicológica que se comporta muito igual a qualquer outra variável psicológica. Deste modo, descobrimos que existem marcantes diferenças individuais, que a performance é altamente sensível às condições e à atmosfera psicológica predominante e nós descobrimos, acima de tudo, que isso mostra, em algum grau, o sinal incessante de atividade mental genuína, inteligência e propósito. Este último ponto é verdade até mesmo nos testes rotineiros de laboratório os quais são considerados, de alguma forma, manifestações deficientes da faculdade psi.

A outra principal escola de pensamento que eu devo discutir nesta conexão é a que pega uma visão a-causal dos fenômenos psi. Ela argumenta para que rejeitemos a visão do bom senso de que deve haver uma conexão causal, diga-se, entre a escolha do alvo ESP e a bem sucedida resposta ESP ou entre instruir o sujeito a almejar um certo efeito de PK e a produção deste efeito. Tal causação, insiste, teria que ser essencialmente mágica. Nós devíamos reconhecer, no lugar dela, que a relação em questão é estritamente coincidente.

Mas a coincidência, neste caso, não é, como um cético concluiria, um mero acidente, mas algo repleto de profundo significado psicológico. Sob a rubrica de "sincronicidade", os fenômenos psi são, deste modo, a um golpe, tirados da arena da atividade mental e transferidos para um reino de que se pode apenas chamar de "destino cósmico". A astrologia e os vários rituais de profecia envolvem semelhantes significados, mas as correspondências a-causais ali assumidas são de alguma maneira embutidas na rede de nossas vidas pessoais.

Como exposto por Jung ou Koestler é uma idéia sedutora, mas ela fornece uma teoria viável e completa para psi? Como Bob Brier assinalou recentemente ao revisar um novo livro sobre precognição, a sincronicidade não é nem uma explicação dos fenômenos nem uma re-descrição da perplexidade que eles provocam e Flew assinalou corretamente que nós não conversamos sobre algo está sendo uma coincidência, salvo se conjunção em questão tem algum significado psicológico subjetivo para nós. Assim, não é tão fácil dizer sobre o que exatamente acrescentamos a um relato sobre um dado fenômeno psi ao chamá-lo de um exemplo de sincronicidade.

O mais próximo que eu posso chegar para entender este conceito é pegar uma analogia literária. As coincidências são bem comuns nos trabalhos de ficção porque elas são deliberadamente postas lá pelo autor em razão do enredo. Para falar sobre coincidências significativas na vida real é tratar a vida como uma espécie de drama cósmico com a implicação que estes incidentes são pré-arranjados por qualquer agente que nós acreditamos ser responsável.

Quando Descartes primeiramente apresentou a doutrina do dualismo radical no século XVII, muitos metafísicos contemporâneos declararam que era inconcebível como duas entidades discrepantes, como a mente e o corpo, poderiam interagir. Conseqüentemente alguém, como Leibniz, sugeriu a idéia de uma harmonia pré-estabelecida; a mente e o corpo não interagem, mas os eventos são beneficamente pré-arranjados de forma que sempre que eu executo um ato de vontade meus braços se movem de modo apropriado e, semelhantemente, sempre que meus órgãos dos sentidos são propriamente estimulados, eu experimento as sensações apropriadas. Sincronicidade estende a idéia de uma harmonia pré-estabelecida para o caso dos fenômenos psi, e isso me soa não menos implausível nas suposições que devem ser feitas. Em ambos os casos, isso é o mais simples para supor que uma relação causal está, realmente, envolvida.

Isso conclui minha abordagem, e assim prosseguirei a resumir. A tese que apresento é que, se aceitarmos a evidência parapsicológica, nós devemos abandonar o fisicalismo. O fisicalismo pode ser compatível com a atividade mental normal, mas não com a atividade mental paranormal. A razão é que toda tentativa em responder aos fenômenos psi em termos de atividade cerebral inevitavelmente falha. No caso de um modelo quebrado de comunicação física, não é como freqüentemente é suposto, que nós não conhecemos qualquer radiação adequada que pudesse agir como a portadora das informações, mas sim porque não existe nenhum meio concebível pelo qual a mensagem pudesse ser codificada na fonte e decodificada no receptor final. A tentativa de superar esta objeção ao se apelar para algum tipo de ressonância mórfica unindo um cérebro ao outro é inútil, salvo a existência de algum princípio que responderia pela seletividade que está envolvida.

Recorrer à física quântica e à teoria observacional não nos aproximou da meta de uma explicação física, seja para o que for que tenhamos que invocar a consciência, a qual não é, de nenhuma maneira, uma variável física, ou nós simplesmente teremos de atribuir a capacidade psi ao cérebro sem qualquer indicação do porquê a atividade cerebral deveria ter esta conseqüência. Tendo deste modo mostrado que o fisicalismo não pode funcionar, uma vez que os fenômenos psi sejam admitidos, a pergunta então emergida se concerne sobre se tais fenômenos devem ser necessariamente atribuídos à mente. Nós discutimos duas posições alternativas:

(a) que tais fenômenos poderiam ser anomalias puras e independentes da natureza, triviais soluços num cosmo organizado de outra maneira.

ou:

(b) que eles poderiam ser devidos a uma combinação a-causal de eventos, como o que ocorre na idéia de "sincronicidade", a exemplo de algum básico princípio além do espaço, do tempo e da causação. Visto que nenhuma destas posições poderia oferecer uma resposta plausível sobre psi, nós concluímos que o dualismo radical é a alternativa óbvia para o fisicalismo reconhecer como verdade a existência de psi.

NOTA MISERÁVEL DESTE BLOGGER:

Se de fato somos convictos que nossa existência não está limitada ao "aqui-e-agora", e que somos mais do que carne e sangue, temos que averiguar, e quando necessário, admitir, TODAS as implicações deste fato.

Com Deus, mas sem "teocracia"

ADVRTÊNCIA DESTE BLOGGER:

Esta postagem pertence ao Ricardo Mamedes, blogueiro de cujas afirmações em outros posts eu discordo.

Cumpre esclarecer, inicialmente, que tenho vários amigos defensores de uma teocracia, ou um governo teocrático a ser estabelecido no mundo, e no Brasil em particular, orientado pelas Leis bíblicas - em sentido 'lato senso', no afã de não particularizar (Lei mosaica) para não ser acusado de simplista.

Um problema que enxergo nesse grupo é uma certa condescendência generosa com que premiam aqueles "outros" cristãos que não comungam do seu ideal, próximo a um beneplácito para com os pseudos-crentes contrários à "lei de Deus". 

E nesse ponto eu os acho rasos. O sentir-se detentor da verdade não faz ninguém dono da verdade. O exclusivismo purista sobre uma "interpretação" à prova de refutação ou contestação é uma verdadeira falácia, posto que a ninguém cabe decretar juízos de valor imperativos provenientes do próprio pensar: a arte de raciocinar pode até ser geral, mas não o seu produto. Sem esquecer que nem todos os raciocínios podem ser considerados verdadeiros, nem mesmo ainda quando partem de uma verdade absoluta (passível de ser torcida).

Não desejo aqui fazer uma longa citação de versículos bíblicos no intuito de "provar" o erro dos teocratras/teonomistas a respeito de um Estado guiado por Leis bíblicas civis, com aplicações penais, especifiamente estabelecidas no AT, no pentateuco, cujo arcabouço jurídico é comumente denominado de Lei Mosaica. De forma geral, vejo inúmeras exceções àquela regras, contidas no mesmo arcabouço, seja no primeiro pacto, ou no segundo.

A meu ver, embora com os seus erros e desacertos, o Estado deve ser laico. Parafraseando o Helder Nozima, o Estado deve garantir o direito de pecar. Nesse diapasão, o padrão da lei humana jamais terá o padrão da Lei de Deus: "A César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Homens que se dizem cristãos jamais aplicarão a Lei de Deus com equanimidade e justiça, ainda quando investidos de autoridade.

O mundo se compõe de povos com crenças diversas, e o Brasil não é diferente. Além de cristãos há também muçulmanos, judeus, budistas, maoístas, hinduístas, etc. Partindo-se de uma teocracia, qual desses grupos deteria o poder, a força da aplicação da Lei, estabelecida segundo os seus padrões religiosos? Sim, porque a moral e a ética são diferentes, com peculiaridades em cada grupo.

Provavelmente este meu texto deixará indignados os meus amigos teonomistas, por não defender o cristianismo. Porém, se isto ocorrer eu afirmarei que é um erro crasso, refletindo uma compreensão superficial de problema tão complexo. 
Pois bem, seguindo na mesma trilha, penso que o Estado deve ser laico, com regras de conduta definidas para o seu povo, a ser aplicadas em seu território a fim de garantir a unidade. 

Esse tal Estado teocrático, ainda que refletindo os valores do cristianismo, nos quais acreditamos e cremos absolutos, jamais garantiria a unidade, mas, ao contrário, estabeleceria o caos e a beligerância, oriundos das disputas que adviriam, resultado de tamanhas e complexas diferenças.

Ademais, mesmo acreditando que os valores provenientes da "Lei" possam e devam ser aplicados ao nosso tempo sem qualquer adequação, malgrado os seus aparentes e possíveis anacronismos e exceções (...que atire a primeira pedra...), quem teria a titularidade e autoridade para tanto? S

Se já não temos os profetas nomeados por Deus para "ungir" o "rei", quem o elegeria? O povo? Seria estabelecida uma democracia representativa? Somente cristãos poderiam votar (aí já não seria democracia...)? Se todo o povo tiver o mesmo direito, voto por voto, qual será o resultado? Ou o governante será nomeado, com poderes de plenipotenciário? Mas quem o nomeará, o povo, ou o próprio Deus?

Os questionamentos acima são apenas um fragmento do que poderia efetivamente surgir se a teocracia fosse novamente estabelecida no mundo atual. 

Utopias não funcionam em um mundo real. Há que se compreender que a Lei Mosaica foi instituída em favor de um povo escolhido, eleito por Deus (Israel). Um povo que ainda não tinha lei. Um povo oriundo da promessa e gozando dos seus benefícios exclusivos, quando os demais povos se encontravam afastados dessa mesma promessa.

 Com a vinda de Jesus Cristo, o Salvador, a graça foi ofertada a todos, judeus e gentios, provenientes de toda a face da terra.

Devemos pregar o Evangelho e anunciar a Cristo; a Lei de Deus está incrustada em nossos corações e a ela tememos e respeitamos, mas não temos a titularidade da sua aplicação, tampouco nos foi delegada autoridade para fazê-lo. 

Não fomos ungidos por Deus e Ele não nos delegou autoridade política ou governamental para instituir um estado teocrático nos moldes daquele que houve em Israel. O próprio Estado de Israel não discute a possibilidade de instituir um Estado teocrático judaico/cristão.

Tenho a esperança, quase certeza, que o próprio Deus jamais delegará ao seu povo autoridade para a aplicação da sua Lei nesta terra, posto que Ele governa e sustenta não somente este mundo como todo o universo. E Ele, através de Seu Filho, julgará a todos quantos devam ser julgados, quando estabelecer o seu Trono neste mundo, e os campos estiverem prontos para ser ceifados. E então, quando da ceifa, será separado o joio do trigo, cada um para a sua finalidade.

Os "desigrejados" são alienados?

Texto de Gustavo Arnoni.

Nos últimos 2 meses recebi uma quantidade imensa de e-mails que diziam respeito a crítica à igreja e a crítica aos críticos da igreja.

De um lado temos os que demonizaram a instituição e fizeram dela o mal supremo do cristianismo. Segundo estes, a essência do amor, da aceitação e responsabilidade social e da igualdade entre os indivíduos foi totalmente perdida no momento em que a igreja virou um jogo político formada por uma hierarquia não-bíblica. A solução para tal problema é: “Fuzilem a instituição!”.

O problema desta posição é uma visão extremamente limitada sobre a instituição. Com certeza a instituição foi prejudicial, mas não por causa dela mesma e sim por causa dos homens que a fizeram. A instituição por si não é nada, ninguém vê a “instituição” extirpando a graça de Deus. Pelo contrário, quem faz isso é o homem. O homem como organizador da igreja institucional é que causa os problemas da igreja instituída.

Desta forma, toda crítica que diz que a instituição é um mal para o cristianismo e uma crítica superficial. O problema é dos homens, inclusive desses críticos! É impossível conviver em um local com várias pessoas sem que algumas regras e hierarquias sejam formadas. Isto é necessário para a organização e, para o horror dos “críticos”, presente na bíblia! Existe uma ordem e uma hierarquia na bíblia. Obviamente não uma exploração de poder, ou distanciamento do pastor com o rebanho como as vezes acontece na instituição. Mas negar que existe uma ordem, uma certa hierarquia, é fazer uma leitura sobremodo superficial e baseada em preconceitos (diga-lhe Frank Viola, padroeiro dos sem-igreja!).

Mas, por outro lado, existe a crítica dos que orgulhosamente dizem: “Eu sou um fundamentalista”. Estes, por sua vez, sequer levam em conta o que os teólogos que ELES dizem ser liberais estão dizendo. Não sabem partir do texto ou do pensamento mesmo deles, mas já os analisam com uma série de preconceitos e críticas. Liberal para esses é todo aquele que não concorda com aquilo que eles pensam. Contra a instituição? Liberal... Não crê na inerrância bíblica? Liberal... Não crê na predestinação? Herege... Simpatiza pela neo-ortodoxia? Ah, é quase um liberal...(!). Orgulhosos e donos da verdade eles rejeitam toda crítica que pode ser construtiva proveniente da igreja emergente, dos teólogos da libertação, dos próprio liberais, etc. Já ouvi inclusive alguns dizendo que o Brennan Manning e o Philip Yancey são liberais (!!!!!!!). Isto revela um total preconceito, tradicionalismo (no mal sentido da palavra), e o que é pior, desconhecimento daquilo que tanto criticam.

O que me gerou indignação diante de tal grande quantidade de e-mails é que um acusa o outro de erro, de tolice, de falta de fé, de desconhecimento da graça de Deus. O outro é sempre o alienado! Nenhum pensa em criticar o seu próprio pensamento, pois isso exige confronto e troca de ideais. O caminho do equilíbrio, da retenção do que é bom, é na maioria das vezes ignorado. Acaba se formando os “fundamentalistas de esquerda” (contra tudo o que é tradição) e os “fundamentalistas de direita” (contra toda a inovação e novo pensamento).

A temperança é o caminho necessário para o cristão, como já dito, o equilíbrio. Aconteceu a mesma coisa nas antigas discussões sobre predestinação e livre-arbítrio. Quantas “cabeças rolando” por uma discussão que, em qualquer tomada de decisão em um ponto de vista, exclui uma outra possível leitura da realidade e da teologia.

O que proponho não é um relativismo, mas sim um pensamento dialético (não no sentido de Bultmann ou Barth), que busca ver os dois lados, ponderar, conflitar, e chegar em uma conclusão, onde um relativismo não chegaria.

Mas quem sabe eu também não possa me tornar um defensor fanático de um método contra o fanatismo? Cabe então até o questionamento sobre isso. Contudo, ao que parece, a necessidade da teologia hoje é achar um ponto de equilíbrio, de convergência entre os diversos pólos opostos defendidos por seus “fieis”.

Fica aqui esta reflexão, se você se irritou ou se identificou com algo, era pra você; se você se sentiu indiferente, também era pra você!