segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Status Científico da Parapsicologia ( 7ª parte )

A vitória da retórica e os limites da política
Existem alguns elementos que podem não constituir os principais fatores de verificação da cientificidade de uma disciplina, mas são tão fundamentais para o desenvolvimento das mesmas, que não se encontrará alguma ciência sem tais elementos. Estes elementos são: a existência de uma instituição profissional; a existência de publicações especializadas; a existência de centros de pesquisa, acadêmicos ou privados; a existência de cursos acadêmicos que confiram graus. A Parapsicologia conta com tais elementos.
Como já foi apresentado, a PA foi aceita como membro da AAAS, em 1969. A PA é uma organização profissional, que congrega pouco menos de 400 membros. Fundada em 1957, a PA tem como objetivos: o desenvolvimento da Parapsicologia como ciência; a disseminação do conhecimento do campo; e a integração de seus resultados àqueles de outros ramos da ciência. Anualmente, a PA realiza uma convenção, com a finalidade de apresentar as pesquisas em desenvolvimento, facilitando o trabalho crítico dos seus membros. Publica os anais das convenções, o Research in Parapsychology e um boletim informativo, o PA News. A PA também tem como trabalho refletir sobre o papel dos parapsicólogos, através da consideração dos aspectos éticos que envolvem as atividades dos profissionais. Um código de ética, constantemente revisado, foi publicado pela PA, com a finalidade de oferecer parâmetros de comportamento para os pesquisadores. O sistema de afiliação é rígido, sobretudo para os níveis mais altos da PA. A maioria dos membros da PA são vinculados a instituições científicas universitárias ou privadas.
Existem vários centros de pesquisa espalhados pelo mundo, com atividades variadas, como publicações, pesquisas e ensino. Nos Estados Unidos, destacam-se três centros de pesquisa. O Rhine Research Center, o Princeton Engeenering Anomalies Research Laboratories e a Consciousness Research Division.
Rhine Research Center (RCC), antiga Foundation for Research on the Nature of Man, é o mais tradicional de todos e também o mais antigo. Foi fundado em 1964 pelo casal Rhine, quando J. B. Rhine se aposentou de suas atividades na Duke University. O RCC abarca o Institute for Parapsychology, dedicado à área de pesquisa e ensino e a Parapsychology Press, que tem a finalidade de manter o Journal of Parapsychology. Na área de pesquisas, sua ênfase é eminentemente experimental, seguindo a tradição do Dr. Rhine. Atualmente são realizadas pesquisas na área de ganzfeld, ESP e percepção subliminar. Na área de ensino, o RRC promove anualmente o Summer Study Program, um curso de oito semanas durante os meses de junho e julho. A direção atual está nas mãos da Dra. Sally Feather, filha do casal Rhine. Os principais parapsicólogos do RRC são o Dr. Richard Broughton, diretor de pesquisas, e o Dr. John Palmer, diretor de ensino.
Princeton Engeenering Anomalies Research Laboratories (PEARL) está sediado na Universidade de Princeton, e tem como seu diretor o Dr. Robert Jahn. O PEARL tem como principal atividade a pesquisa sobre o relacionamento entre mente-matéria, a partir das investigações de psicocinesia. O laboratório conta com equipamentos que permitem a realização de milhares de séries experimentais em curto espaço de tempo.
Consciousness Research Division (CRD) é o centro mais recente. Fundado em 1994, a CRD, tem como diretor o Dr. Dean Radin. O foco das pesquisas de Radin e Jannine Rebman, também pesquisadora da CRD, são "experimentos psi na vida cotidiana", ou seja, situações do dia-a-dia, altamente controladas, em que psi poderia estar em funcionamento. Situações como essas são encontradas em cassinos, em que há um rigoroso controle sobre a aleatoridade dos jogos e das condições de motivação dos participantes. Radin e Rebman têm realizado investigações que visam verificar quais as potenciais aplicações práticas de psi. (Radin e Rebdman, 1996)
Ainda nos EUA, a American Society for Psychical Research (ASPR) é importante, sobretudo por publicar o Journal of American Society for Psychical Research (JASPR). A linha editorial do JASPR é balanceada entre pesquisas experimentais, pesquisas de casos espontâneos e artigos teóricos.
Na Europa, o centro mais importante é a Koestler Chair of Parapsychology (KCP), na Universidade de Edimburgo. Estabelecida em 1985 com fundos doados pelo casal Cristina e Artur Koestler, a KCP é não apenas um centro de investigações, mas também um centro de formação acadêmica, que confere o grau de Doutor em Psicologia, para pesquisadores que apresentem teses cujo tema seja ligado à Parapsicologia. Dirigido pelo Dr. Robert Morris, o foco da KCP é o relacionamento entre Psicologia e Parapsicologia, daí porque serem considerados trabalhos que apresentem, por exemplo, aspectos relacionados à psicologia da fraude, aos aspectos fenomenológicos das experiências parapsicológicas, aos aspectos de personalidade relacionados à tecnica ganzfeld e aos aspectos diferenciais entre psicopatologias e manifestações parapsicológicas. A KCP publica o European Journal of Parapsychology.
Na América Latina há alguns centros de pesquisa e difusão da Parapsicologia. Sem dúvida, a Argentina é o país que mais tradição apresenta na área. As décadas de 1960 e 1970 ficaram marcadas pelo trabalho do psicólogo de reconhecida qualidade profissional, Dr. Ricardo Musso. Nas décadas de 1970 e 1980, o trabalho do jesuíta e químico Novillo Pauli, no Instituto de Parapsicologia da Universidad del Salvador, foi reconhecido pelas suas pesquisas a respeito da ação psicocinética sobre o crescimento de plantas. Atualmente, o Instituto de Psicologia Paranormal é o mais ativo dos centros argentinos. Dirigido por Alejandro Parra, o instituto promove encontros, pesquisas e a publicação da Revista Argentina de Psicologia Paranormal.
No Brasil, as mais conhecidas personalidades da Parapsicologia são o Pe. Oscar G. Quevedo e o engenheiro Hernani Guimarães Andrade. O Pe. Quevedo dirige o Centro Latino-Americano de Parapsicologia (CLAP), criado por ele no final da década de 1960. O CLAP tem como atividade fundamental a difusão da Parapsicologia através de cursos e publicações. Na década de 1970, algumas pesquisas experimentais foram empreendidas e, até a atualidade, são desenvolvidas pesquisas de casos espontâneos, sobretudo, do assim chamado fenômeno de poltergeist ou casas mal-assombradas. O Pe. Quevedo escreveu nove livros até o momento, todos ligados à Parapsicologia e a questões religiosas. (Quevedo, 1978, 1982, 1983a, 1983b, 1983c, 1989, 1992a, 1992b, 1996)
Hernani Guimarães Andrade é um conhecido e ativo espírita, que fundou, na década de 1960, o Insituto Brasileiro de Psicobiofísica. Realizou várias pesquisas de casos espontâneos, sobretudo, do fenômeno poltergeist, e de casos de lembranças de vidas passadas. Escreveu monografias e livros em que apresenta e discute o impacto de suas pesquisas em suas concepções metafísicas. (Andrade, 1959, 1976, 1983, 1984, 1986, 1987, 1988) Quevedo e Andrade são o retrato da Parapsicologia brasileira até o início da década de 1990. As preocupações de ambos sempre residiram na utilização da Parapsicologia como instrumento de defesa e ataque religioso. (Hess, 1991; Zangari e Machado, 1995; Machado, 1996) No início dos anos 90, a Parapsicologia brasileira ganhou a presença de jovens parapsicólogos, mais afinados com propósitos científicos do que religiosos. Integrados ao trabalho dos demais membros da Parapsychological Association, esses parapsicólogos se organizaram e formaram centros de pesquisas e ensino, iniciaram publicações e fundaram uma organização profissional nacional. Tais parapsicólogos integram vários centros de pesquisa e/ou ensino, como o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas; a Faculdade de Ciências Bio-Psíquicas do Paraná; o Curso de Pós-Graduação em Ciência e Parapsicologia, da Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro; e o INTER PSI - Instituto de Pesquisas Interdisciplinares das Áreas Fronteiriças da Psicologia, da Faculdade Anhembi Morumbi. Surgiu uma publicação especializada, a Revista Brasileira de Parapsicologia e uma associação nacional, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Parapsicologia. Alguns brasileiros têm apresentado trabalhos nas convenções anuais da PA e publicado artigos em publicações afiliadas à PA (Carvalho, 1992; Zangari e Machado, 96) demonstrando o início de uma troca de informações entre brasileiro e estrangeiros. A Parapsicologia no Brasil, como ciência, é ainda adolescente: está se estruturando e buscando uma identidade. (Zangari e Machado, 1995)
Apesar dessas e outras vitórias, a Parapsicologia não conta com a aceitação da maior parte dos cientistas de elite. Em 1982, McClenon realizou uma pesquisa entre os cientistas de elite da American Association for Advancement of Science com o objetivo de obter informações sobre a posição e conhecimento dos mesmos em relação à Parapsicologia. (McClenon, 1984) Tais informações seriam importantes para se formar um quadro do processo de reconhecimento da Parapsicologia, tendo como pano-de-fundo o fato de que a legitimação científica do campo é um processo retórico e político. Como conclusão dessa pesquisa, McClenon escreceu:

"A população dos cientistas de elite pesquisada neste estudo demonstrou um grau de ceticismo em relação à ESP mais alto do que qualquer outro importante grupo pesquisado nos últimos vinte anos. Essa dúvida sobre a probabilidade da ESP está positivamente relacionada à rejeição da legitimidade da Parapsicologia. Na população de cientistas que constituia uma elite ‘administrativa’, esses resultados lançam luz sobre a razão pela qual a Parapsicologia falhou em ganhar total legitimidade na comunidade científica, mesmo que seus proponentes tentassem adequá-la a todas as normas e cânones da ciência. Nesse grupo de cientistas de elite, a crença na ESP está mais proximamente relacionada à experiência pessoal do que à familiaridade com a literatura sobre psi. Há uma tendência daqueles que duvidam da existência da ESP em citar uma razão apriorística para sua opinião. A freqüência de experiências anômalas relatadas pelos membros dessa população é alta e positivamente relacionada à sua crença na ESP. Comparada com a população americana em geral, essa elite de cientistas relata baixa porcentagem de experiências anômalas. Isto sugere que tais experiências violam aspectos da visão de mundo científica e que aspectos da educação científica e do processo de socialização reduzem o valor dado a essas experiências. Estes resultados são semelhantes àqueles apresentados pelo Gallup (1982). Ele encontra em um levantamento nacional líderes científicos e autoridades médicas tendem a rejeitar, desacreditar ou explicar os casos de ‘experiências próximas da morte’. Enquanto 67% da amostra nacional endossou a crença na vida depois da morte, apenas 32% dos médicos e 16% dos cientistas assumiram tal posição na amostra do Gallup.
Pode-se esperar que os cientistas de elite defendam a visão de mundo científico mais vigorosamente que os cientistas que não são de elite porque parte de seu papel como elite é definir a natureza da ciência. Isto os leva à tendência de estigmatizar os cientistas que investigam experiências anômalas (ou que tentam induzir tais experiências sob condições de laboratório) como tolos, incompetentes ou fraudulentos". (McClenon, 1984)
"Apesar da maioria dos cientistas modernos enxergarem a pesquisa parapsicológica como legítima, os cientistas de elite se constituem em problema especial aos parapsicólogos. Diferentemente da maioria dos cientistas de faculdades, que aceitam a possibilidade da existência de ESP (Wagner & Monet, 1979), os cientistas de elite tendem a rejeitar alegações parapsicológicas." (McClenon, 1990)

 


Essa pesquisa nos mostra que os cientistas de elite não conhecem as pesquisas parapsicológicas, seus resultados e suas implicações. A crença na ESP, baseada em experiências pessoais, é o fator mais importante para, indiretamente, legitimarem a Parapsicologia. Mas, a partir da pesquisa de McClenon, é possível se esperar uma crescente aceitação da Parapsicologia, já que haveria uma crescente crença em psi. Existe um relacionamento positivo entre idade e crença na ESP.

"Em 1981, a porcentagem dos cientistas de elite da AAAS que nasceram antes de 1919 e que acreditavam na ESP como um ‘fato’ ou como ‘provável’, foi de 25%. Daqueles nascidos depois de 1936, 39% enquadram-se nessa categoria. Se essa correlação significa uma tendência, a maioria dos ‘mais jovens’ cientistas de elite serão mais ‘crentes’ na ESP nas próximas décadas". (McClenon, 1984)

O que é importante notar, novamente, é que a legitimação da Parapsicologia depende de fatores objetivos como a validade dos métodos de avaliação utilizados; do peso das análises estatísticas favoráveis à exitências dos fenômenos parapsicológicos; mas também de fatores subjetivos, relacionados a aspectos pessoais e grupais. É possível que Heisemberg estivesse certo ao afirmar que "uma geração não muda de opinião pela mera apresentação de argumentos. As opiniões são mudadas porque essa geração morre e uma nova toma o seu lugar".

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