segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Status Científico da Parapsicologia ( 3ª parte )

Continuação da 2ª parte.
A palavra dos críticos
Desde o início da pesquisa dos fenômenos parapsicológicos há cientistas de várias disciplinas e mágicos e que têm se dedicado a avaliar as evidências da existência dos fenômenos parapsicológicos. Com essa finalidade, foram criados, em vários países, instituições de críticos. A mais importante dessas instituições é o Committee for the Scientific Investigation of Claims of the Paranormal (CSICOP), fundada em 1976 pelo filósofo Dr. Paul Kurtz e pelo sociólogo Dr. Marcelo Truzzi. Kurtz e Truzzi se dedicavam ao estudo acadêmico de crenças e práticas ocultas. Fizeram campanhas contra o que consideraram "pseudo-ciências", pricipalmente a Astrologia. O CSICOP nasceu com os seguintes objetivos:
"a investigação crítica das alegações do paranormal e da ciência marginal de um ponto de vista responsável e científico e a disseminação de informações factuais sobre os resultados de tais questões à comunidade acadêmica e ao público". (Kurtz, 1976)
O comitê teve, rapidamente, grande número de adesões de profissionais de diversas áreas. Entretanto, o trabalho foi prontamente questionado pelos seus próprios membros. Truzzi abandonou-o, assim como muitos membros, alegando que o comitê havia se tornado um meio de luta contra a existência de anomalias científicas, abandonando seus objetivos iniciais.
Um dos membros do CSICOP, C.E.M Hansel, um psicólogos inglês, dedica-se à análise de experimentos parapsicológicos. Sua tese é a de que os resultados positivos obtidos experimentalmente em favor da hipótese da percepção extra-sensorial foram fraudados. (Hansel, 1980) Hansel se detém, em suas análises, a construir o cenário dos conluios entre os pesquisadores ou às possibilidades de fraudes por parte dos sujeitos de experimentação.
Como em qualquer área, também em Parapsicologia há pesquisadores inescrupulosos. Há dois casos bem documentados de pesquisadores que foram surpreendidos cometendo fraudes. O "caso Levy", como ficou conhecido, refere-se à fraude relacionada a pesquisas de supostos fenômenos parapsicológicos em animais. (Rhine, 1974) Walter Levy modificava os resultados experimentais desfavoráveis por resultados positivos. Houve suspeitas por parte de seus colegas e Levy acabou confessando que utilizara do expediente da fraude para "melhorar" os resultados de suas pesquisas. O Outro caso clássico, refere-se às fraudes cometidas pelo Dr. Soal, matemático inglês. Soal parece ter fraudado os resultados acrescentando dados não obtidos nas sessões originais. (Irwin, 1994, p. 317)
O argumento de que sempre há a possibilidade de fraude nas pesquisas parapsicológicas é um argumento que poderia ser utilizado para qualquer ciência. Isto nos levaria a invalidar os resultados das pesquisas realizadas por milhares de investigadores em todas as áreas do conhecimento, o que é um absurdo. Não parece lógico que haja uma grande conspiração entre os parapsicólogos a qual poderia ser a razão dos bons resultados obtidos pelas pesquisas em favor da percepção extra-sensorial. Apesar disso, críticos como Hansel, continuam a sustentar tal explicação. Os casos de Levy e Soal representam uma ínfima parte dos pesquisadores envolvidos em programas de pesquisas parapsicológicas. Assim, o argumento de que "poderia ter havido uma fraude" parece insustentável.
Críticas melhor elaboradas se detiveram a examinar as condições experimentais das pesquisas parapsicológicas. A posição dos críticos é a de que "deve haver erro em algum lugar". Assim, suspeitaram que os alvos não fossem selecionados de forma aleatória, que não havia controle contra o vazamento sensorial em alguns experimentos, que a metodologia estatística não estava sendo adequada.
As críticas desse tipo atingiram as pesquisas realizadas no centro de pesquisas parapsicológicas mais importantes dos EUA, o Laboratório de Parapsicologia na Universidade de Duke, na Carolina do Norte, EUA, fundado em 1935, sob os auspícios do eminente psicólogo americano William McDougall. Dr. Joseph Banks, considerado o "Pai da Parapsicologia", sua esposa, a Dra. Louisa Ella Rhine, ambos biólogos de formação, integravam o laboratório, com outros colegas. A equipe do Laboratório de Parapsicologia tinha como marca a pesquisa experimental e o emprego da estatística matemática como auxiliar na investigação da hipótese da percepção extra-sensorial e da psicocinesia (ação direta da mente sobre o meio físico). Após a publicação do primeiro relatório, Extrasensory Perception, em 1933, Rhine e seus colegas foram duramente criticados pela suposta má utilização da estatística. Rhine chamou tais críticas de "as primeiras críticas sérias". (Rhine, 1937) Embora acreditasse não haver razão para tais críticas, respondeu a todas elas, fazendo com que alguns de seus críticos mudassem de opinião:
"Duvidou-se da matemática, é certo; não porém por parte de um único matemático. Dois psicólogos escreveram quatro artigos criticando-a; mas o autor de três deles convenceu-se de que sua crítica não tem razão de ser, agora que possui o que acha ser número suficiente de novas informações. Um terceiro psicólogo publicou, mais recentemente, uma revisão das críticas e afirma que as estatísticas usadas nessas pesquisas são substancialmente corretas". (Rhine, 1937)
O que diziam os matemáticos? Em 1937, durante a convenção anual do Instituto Americano de Estatístaca Matemática, foi designada uma comissão para avaliar a utilização da estatística empregada no Laboratório de Parapsicologia. Após a análise, o presidente da referida convenção, E. H. Huntington, emitiu a posição dos membros do grupo de trabalho:
"As investigações do Dr. Rhine têm dois aspectos: um experimental e outro estatístico. Na fase experimental os matemáticos, supõe-se, não têm nada a dizer. Mas na fase estatística, recentes trabalhos matemáticos estabeleceram o fato de que, admitindo que as experiências tinham sido realizadas corretamente, a análise estatística é essencialmente válida. Se a investigação de Rhine pode ser atacada, há de sê-lo em outro terreno que não o matemático" (Rhine, 1971)
Recentemente, críticos e parapsicólogos têm debatido resultados experimentais relacionados à pesquisa de duas técnicas de pesquisa parapsicológica: ganzfeld e visão remota. Mais à frente, neste trabalho, há uma sessão dedicada a cada um desses experimentos. Portanto, não serão tratados neste momento em profundidade. Interessa aqui a compreensão mínima das técnicas para que o leitor possa entender sobre o que se está tratando e a posição de críticos e parapsicólogos a respeito delas.
Ganzfeld, do alemão, significa campo completo, campo homogêneo, campo total. A técnica ganzfeld consiste em que uma pessoa esteja deitada, ou confortavelmente instalada em uma poltrona reclinável, enquanto vê e ouve estímulos padronizados. Sobre cada um de seus olhos é colocada meia bolinha de ping-pong. Nos ouvidos, o fone de ouvido transmite ruído branco, parecido ao som de rádio fora de estação. A pessoa se mantém com os olhos abertos, de forma a ver a tonalidade avermelhada que é projetada sobre as meias bolinhas de ping-pong. Essa técnica, desenvolvida por psicólogos da gestalt na década de 1950, permite ao sujeito uma grande produção de imagens mentais, não apenas pela homogeneização da entrada de estímulos sensoriais auditivos e visuais, mas também pela alteração de consciência que a técnica pode proporcionar.
Os parapsicólogos se interessaram em aplicar a técnica ganzfeld em experimentos parapsicológicos por saberem que estados alterados de consciência aumentam a chance de ocorrência de experiências parapsicológicas. Sabia-se, por exemplo, que os sonhos, a meditação e a hipnose poderiam favorecer a emergência de conteúdos telepáticos do inconsciente para a consciência dos indivíduos. Uma pessoa submetida à tecnica ganzfeld não poderia estar mais "aberta" a receber pensamentos, sentimentos e imagens mentais de uma outra pessoa localizada à distância? Assim, a utilização da técnica ganzfeld em experimentos parapsicológicos se processou, tendo como participantes um emissor, um receptor e um expeirmentador. O papel do emissor era o de olhar par uma imagem, como uma foto, ou um video-clip, e desejar transmiti-la ao receptor. Ao receptor, que se encontrava afastado espacialmente do emissor, cabia falar tudo o que lhe viesse à mente enquanto estava na situação ganzfeld, ou seja, com estímulos visuais e auditivos controlados. Todo o procedimento era controlado pelo experimentador, que dispunha de equipamentos de som e videocassete, para gravar o que o receptor falava e para enviar ao emissor a imagem a ser transmitida.
Charles Honorton foi um dos parapsicólogos que mais se dedicou à análise teórica e experimental da ação da técnica ganzfeld em testes parapsicológicos. (Honorton, 1977). Os resultados apresentavam índices de acerto acima dos níveis esperados pelo acaso, mostrando uma evidência da existência de uma forma de comunicação psi, facilitada pela técnica ganzfeld.
Não demorou para que críticos explicassem os bons resultados por erros cometidos pelos parapsicólogos. Ray Hyman, um respeitado psicólogo americano, é o mais importante representante dos críticos dos experimentos ganzfeld em Parapsicologia. Honorton, por sua vez, tratou de argumentar em favor da qualidade da pesquisa realizada por ele e por seus colegas. As críticas feitas por Hyman se detiveram ao aspecto da taxa de repetição do experimento, acima da esperada pelo acaso. Isto significa que os experimentos ganzfeld apresentaram resultados consistentes acima da média esperada pelas leis estatística.
Entre outras críticas, Hyman afirmou que os resultados positivos foram obtidos porque os parapsicólogos publicavam apenas os experimentos que apresentavam bons resultados. Entretanto, um levantamento realizado por Susan Blackmore (Blakmore, 1980) dá conta de que os experimentos ganzfeld não publicados apresentavam resultados semelhantes aos experimentos publicados. Além disso, chegou-se à conclusão matemática de que, para invalidar o conjunto de trabalhos que apresentavam bons resultados experimentais, seria necessária uma quantidade tal de pesquisas que não apresentassem índices acima do esperado pelo acaso, que superava a possibilidade de tempo possível de realização das mesmas.
Hyman ainda sustentou que os bons resultados poderiam ter sido obtidos pela existência de pistas sensoriais e por problemas no processo de aleatorização dos alvos. (Hyman, 1985) Essa crítica foi levada foram levadas em conta pelos parapsicólogos. Honorton e alguns colegas desenvolveram um novo procedimento experimental, chamado ganzfeld automático ou auto-ganzfeld, com a finalidade de impedir a possibilidade de pistas sensoriais e de erros no processo de escolha dos alvos. (Honorton et al., 1990) Se Hyman estivesse certo, os índices obtidos com a nova técnica cairiam aos níveis esperados pela chance matemática. Entretanto, a meta-análise dos resultados das pesquisas que empregaram o auto-ganzfeld, mostrou significação estatística, evidenciando uma vez mais a possibilidade da existência de processos de comunicação psi. (Honorton et al., 1990)

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