Escrito por Andé Luís N. Soares, do ParaPsi.
O
 que se segue é uma abordagem histórico-social a respeito do 
comportamento da moderna sociedade ocidental diante de alegações 
psíquicas anômalas.
De
 início, observo que frequentemente utilizarei termos como "paranormal",
 "sobrenatural", "psi" e "supernatural" para significar o mesmo conjunto
 de fenômenos psíquicos em que se ocupa a Parapsicologia contemporânea 
(isto é, telepatia, clarividência, psicocinese e 
retro/pre/simulcognição), além das manifestações de preocupação 
adjacente, como curas psíquicas, casos sugestivos de reencarnação, 
estudo de aparições, experiências extra-corpóreas, de quase-morte e [supostas] 
comunicações mediúnicas. Portanto, a conotação dada aqui à palavra 
"paranormal" é bem restritiva, unicamente vinculada às manifestações 
psíquicas de natureza anômala.
Passada
 essa observação, começo por indagar o porquê pessoas comentam sobre o 
paranormal de maneira desdenhosa. Teriam elas examinado o tema, e 
concluído - com base em uma pesquisa sólida - que os fenômenos 
relacionados não são merecedores de atenção? Longe disso! E digo mais: o público em geral sequer conseguiria esboçar perguntas básicas sobre a psi! O
 que temos é uma verdadeira supressão secular de fatos que, se 
admitidos, iriam estremecer as concepções mais profundas do que se 
define por "Realidade".
A principal explicação para essa prevenção mental reside na atual perspectiva de mundo, a qual, remontando a física Newtoniana, sustenta que toda a causação é contígua,
 isto é, se você observa as letras que acabei de redigir, é porque 
cadeias de fótons viajaram do monitor até sua retina, passaram por seu 
sistema nervoso periférico e excitaram os neurônios em seu cérebro. Por 
outro lado, se você conseguisse ler uma carta no interior de um envelope
 opaco, isso simplesmente desafiaria tal pressuposição de causalidade. 
Nenhum fóton da carta viajaria até a retina, não obstante, você teria a 
percepção de enxergar as letras. O mesmo se diga para a telepatia e 
psicocinese. Afinal, a comunicação extra-sensória entre duas mentes (ou 
cérebros) - telepatia - ou a movimentação de objetos inanimados pela intenção - psicocinese - pressupõem um padrão de “ação à distância”. Enfim, se a causação contígua
 é verdadeira (como sustentado pelo nosso modelo atual de realidade), 
por que deveríamos - assim pensam aqueles compromissados com o materialismo-mecanicista  -  perder tempo com tais alegações?
Mas antes de abordar a relação entre a compreensão de mundo vigente e psi,
 vamos recuar no tempo rumo ao alvorecer da revolução científica no 
século XVII, e verificar que, mesmo no nascer da ciência moderna, a 
construção da realidade, ideologicamente, pressupunha a exclusão de ação mental à distância. Advirto, ainda, ao leitor que nesse texto não serão divulgadas ou discutidas as pesquisas da física quântica (e nem de fenômenos parapsicológicos)
 que refutaram, por completo, a visão de mundo mecanicista e a crença na
 causação contígua. Tudo isso será tratado mais a frente, em capítulo 
próprio.
A PRIMEIRA VERSÃO DA MODERNIDADE
Enquanto é difícil realizar um recorte histórico para se identificar o início da modernidade, é simples defini-la como um movimento cultural de transição do curso inconsiderado da experiência para sua racionalização, utilizando-se técnicas refinadas de se pensar para a superação do mito e da superstição de tempos "pré-modernos". Nesse contexto, a Revolução Científica do século XVII pode ser encarada como um de seus motores.
Acrescente-se que o desenvolvimento do empirismo e do criticismo (como consequencia de uma sociedade agora humanista), o renascimento cultural, a reforma e o hermetismo também contribuíram para redirecionar o homem a uma época livre das influências místicas e de toda bruxaria que cercou a Idade Média.
 Nessa transformação social, o paranormal foi banido da existência, 
embora ainda se admitisse que a vontade de Deus pudesse interromper o 
curso natural de causalidade. Newton, por exemplo, pensava que Deus 
poderia, ocasionalmente, intervir para ajustar a órbita dos planetas 
(Griffin, 1997), muito embora Descarte acreditasse que Deus criara o 
universo como um perfeito mecanismo de moção vertical, que funcionava deterministicamente sem intervenção após a Criação. Seja como for, e apesar de toda pressão clerical, essa interpretação supernaturalista não era imune de questionamentos, sendo
desafiada por advogados da filosofia hermética e outras filosofias ‘mágicas’, que permitiam a influência à distância (...) como ocorrência puramente natural.
 As curas ‘milagrosas’ realizadas por Jesus, assim, não requereriam 
nenhuma intervenção supernatural e, de fato, em nada seriam diferentes 
das curas praticadas em outras tradições. Esta visão era perigosa não 
apenas à autoridade da Igreja, mas também à estabilidade de toda a ordem
 social (...) os extraordinários eventos ocorridos em contextos 
não-cristãos seriam convenientemente descritos como o poder 
‘preternatural’ de Satã, que simularia verdadeiros milagres (ibid., p. 21).
Sim,
 em nome de Satã! Frise-se que alguns historiadores estimam que milhões 
de pessoas foram assassinadas por realizarem bruxaria, prática que se 
imaginava prejudicar os outros pela intenção, geralmente materializada através de rituais.  
Então,
 os pioneiros do intelectualismo moderno, como Mersenne, Newton, Boyle, 
Locke e, mais notoriamente, Descartes, sustentaram uma posição teórica 
que se poderia chamar de supernaturalismo dualista. A suposição básica aqui é que mente e corpo seriam duas substâncias radicalmente diferentes em tipos. Além disso, a mente era completamente excluída da natureza, e somente poderia perceber e agir através do cérebro. Muito embora esse dualismo abrisse, a princípio, algum espaço para que a mente exercesse alguma influência à distância, ao abraçar a teoria sensacionista da percepção, fechou as portas a tal possibilidade.
Paralelamente, esses pensadores, ainda sob forte influência da Igreja, suportavam a idéia de que a causalidade sem contato poderia ocorrer unicamente pela
 intervenção Divina, ou de seus representantes "caídos" na Terra, o que 
justificaria aceitar os milagres narrados na bíblia.  
Ocorre que esse supernatural dualismo Cartesiano, ao conceder arbitrária e exclusivamente ao homem uma alma (ou
 mente), enquanto os outros animais não passariam de meros autômatos, 
envolveu-se em séria dificuldade, que hoje podemos chamar de o problema da demarcação (afinal, quando, no curso da evolução, poderíamos dizer que apareceram seres sentientes, possuidores de mente?). Um século depois, já nos ares do movimento Iluminista, a não solução desta questão, somando-se as descobertas científicas, -em especial as de Newton, que matematicamente descrevia um universo previsível e tão mecânico quanto um relógio-,
 e a influência impactante das filosofias de Voltaire, Diderot e David 
Hume, ergueu-se um cenário que decididamente inspirou os seguidores de 
Descartes a questionarem se o homem também não passaria de uma máquina 
inteiramente governada por leis físicas, assim como o Universo e demais seres, a esta altura, já eram entendidos. Na metade do século XIX, esse novo modo de pensar ainda ganhou novo impulso pela difusão das idéias de Darwin.
A SEGUNDA PERSPECTIVA DA MODERNIDADE: O MATERIALISMO-MECANICISTA
Nessa ainda dominante worldview,
 tudo o que acontece no cosmos é resultado de uma das quatro forças 
reconhecidas: gravitação, eletromagnetismo, forças nucleares forte e 
fraca. Algumas pressuposições que derivam de tal assunção é que a 
realidade é inteiramente local, logo, a interação entre dois 
corpos distantes entre si deve ser mediada por uma daquelas forças. 
Segue-se disso que a hipótese de uma influência “fantasma”, como psicocinese, é tudo, menos possível. Não obstante, fatos  acontecem, independente de nossa predileção teórica!
 Eles não se importam com a nossa necessidade intelectual em 
compreendê-los. Assim sendo, a notícia de fenômenos anômalos sempre 
existiu na humanidade (Carter, p. 23-30). Relatos de sonhos 
premonitórios, "coincidências bizarras", testemunhos de aparições de 
mortos e casas reputadas mal assombradas sempre foram uma constante, 
podendo ser reais, mesmo que nossa visão de mundo feche os olhos para isso.
Em
 síntese, como essa segunda e atual perspectiva da modernidade apenas 
mutilou o dualismo Cartesiano (rejeitando a crença em Deus e na alma 
humana), e a mente, na melhor das hipóteses, foi rebaixada a uma função 
cerebral, o paranormal continuou do lado de fora da realidade.
Mas outras razões para a intolerância ao sobrenatural também poderiam ser mencionadas.
Uma
 delas é que o materialismo, desde sua origem, é tratado mais do que uma
 hipótese científica. Muito de sua argamassa são abstrações ideológicas 
de uma versão mais simples e previsível da vida, inclusive construtos 
psicológicos que afastam o medo do desconhecido e de punições divinas. Um efeito esperado disso é a ignorância intencional
 a respeito de anomalias, ou seja, de fenômenos que desafiam os 
pressupostos metafísicos (e científicos) estabelecidos. Pode-se 
acrescentar que a perspectiva de mundo materialista supõe a doutrina do sensacionismo, -cuja percepção se dá exclusivamente por intermédio de nossos cinco sentidos-, logo, admitir percepção extra-sensorial seria algo contraditório.
A
 negação de antemão do paranormal já é algo impregnado em nossa cultura.
 Séculos e mais séculos transcorreram, e a civilização ocidental tem, 
cegamente, negado-se a examinar alegações de acontecimentos psíquicos 
inabituais. Parte disso decorre do racionalismo paradigmático, 
uma forma de pensar ortodoxa e perniciosa ao avanço científico. Aqueles 
que assim refletem são compromissados, emocional e intelectualmente, com
 o entendimento em voga. Para eles, as suposições, as teorias, vêm antes
 dos fatos. A tal respeito, já ilustrava William James (1986, p. 194-5):
Eu
 convidei, separadamente, oito de meus colegas científicos para virem a 
minha casa quando quiserem, e se sentarem com a médium cuja evidência 
publicada em nossas Atas tem sido mais notável. Embora isso significasse
 no máximo um gasto de uma hora para cada, cinco deles declinaram a 
aventura (...) eu convidei outro amigo, psicólogo, para olhar o caso 
desta médium, mas ele respondeu que isso é inútil, pois se ele chegasse 
aos resultados que eu reporto, ele simplesmente acreditaria estar 
alucinando. Quando eu propus como solução que ele permanecesse nos 
fundos, tomando nota, enquanto sua esposa pegasse a sessão, ele explicou
 que nunca poderia consentir a presença de sua esposa nessas 
apresentações.
É
 inquestionável que essa conduta negativa favorece a falta de 
conhecimento sobre evidências que apontam para a existência de uma mente
 causativa e que pode superar os limites do corpo, inclusive continuar a
 existir sem ele. O fato é que quase todos estão muito mal informados sobre as pesquisas Parapsicológicas e estudos de casos espontâneos correlacionados. A
 maioria esmagadora dos cientistas e divulgadores da ciência, 
igualmente, (quase) nada sabem sobre a área, não obstante, muitos deles 
são formadores de opinião que, para tristeza, contribuem para difundir a
 ignorância. Exemplos desse comportamento serão abordados a frente, quando discutirei as alegações e o comportamento dos céticos.
MAIS RAZÕES PARA A HOSTILIDADE
Nas linhas acima, ao mencionar alguns aspectos sócio-culturais relacionados a psi,
 igualmente tratei da principal causa que leva as pessoas a zombar e a 
rejeitar como um monte de porcarias místicas os relatos que interpretam 
certos fenômenos "estranhos" como evidências de ação mental à distância. Em resumo, a ideologia (mecanicista) contemporânea - através de seus dogmas - determinismo,  localismo, reducionismo e o identismo mente-corpo, simplesmente proíbe a causalidade sem contato, ainda mais quando se sugere que conteúdos psicológicos sejam os elementos causais chave de uma influência que desrespeita a crença de causação contígua. Superado esse ponto, veremos outros fatores que produzem uma resistência pessoal aos fenômenos parapsicológicos.
a) O medo do paranormal: nesse particular, o materialismo nos fornece alguma esperança de efetivamente termos o controle de
 nossas ações, como efetivamente acreditamos ter. Por exemplo, se 
telepatia for real, poderíamos concluir que outras pessoas teriam a 
chance de influenciar mentalmente as decisões que tomamos. Sentimentos 
negativos (como o ódio e o rancor) poderiam ser transmitidos a 
semelhança de um vírus que se propaga no ar, e nesse “contágio 
psíquico”, eles seriam, ainda que de modo inconsciente, absorvidos por 
nós. De outro lado, nosso senso de responsabilidade deveria ser dos mais
 elevados, pois, poderiam nossos pensamentos afetar negativamente o planeta, contribuir para a ocorrência de desastres naturais, de acidentes urbanos e quedas de aviões? Haveria chance de existir algo como uma "psicoesfera", uma mente global, alimentada pelo conteúdo mental de cada ser vivente?
  E ainda: a hipótese de uma mente sobrevivente, capaz de continuar após
 a deterioração do corpo, fornece a oportunidade de entes incorpóreos 
afetarem nossas escolhas, privacidade, e comprometerem nosso futuro. A 
esse respeito, o filósofo Michael Grosso (p. 224/225) concluiu:
Um
 universo no qual a vida depois da morte é um fato seria um universo 
cheio de entidades e de forças desconhecidas e, possivelmente, 
assustadoras. Relatos sobre possessões demoníacas, assombrações e outros
 fenômenos misteriosos já não poderiam ser descartados se houvesse razão
 de acreditar numa vida depois da morte. Ora, eu não ponho em dúvida o 
fato de que o medo de sinistras forças sobrenaturais continua vivo e 
atuante nas mentes inconscientes de muitos seres humanos 
superficialmente racionais.
b) O receio do obscurantismo:  para alguns, a vitória do Iluminismo francês suplantou a superstição de nossa civilização. Para eles, a atenção ao paranormal seria um retrocesso à época das trevas.
 A física Newtoniana, como já mencionamos, desenhou um modelo de 
universo matemático e previsível. Desafiar essa ordem, sustentando uma 
relação causa-efeito sem contato pareceria tão herético quanto Copérnico um dia foi.
c) A ação dos aproveitadores:
 ledores da sorte, cartomantes, bruxos, médiuns e pregadores da "Nova 
Era" frequentemente não passam de charlatães profissionais que enganam 
pessoas carentes de um universo pleno de significado, onde os 
sofrimentos possam ser recompensados e consolados. Esses "trabalhos", aliados a falta de informação do público em geral, contribuem para propagar negativamente a Parapsicologia, fazendo-a aparecer como uma tentativa em se reavivar o misticismo pré-moderno.
d) A ação de organizações materialistas-fundamentalistas: grupos como o The Committee for Skeptical Inquiry (CSI) são formados por pessoas de alto grau intelectual, que escondem suas crenças embaixo do manto do "ceticismo".
 Na verdade, elas estão bem arraigadas a um sistema de crença tanto 
quanto um religioso fundamentalista. Desse modo, a diferença entre um desmistificador do paranormal e um missionário é
 que o primeiro prefere ser chamado de “cético”. A popularidade que 
essas organizações alcançam (com muito sensacionalismo) na mídia deturpa
 até mesmo o conceito de “ceticismo”, quase confundido com o de 
“materialismo”. Esses pseudocéticos distorcem e ocultam dados sobre psi,
 fazem acusações vociferantes de fraude, quase sempre se resumem ao 
papel de “crítico” (não pesquisam ou elaboram experimentos), exigem 
níveis de evidência absurdos, dentre outros comportamentos desonestos 
que objetivam manchar a evidência real de fenômenos parapsicológicos. 
e) Psicologia dos cristãos incrédulos no paranormal: como vimos, muitas religiões cristãs impuseram o monopólio do sobrenatural às divindades. Em outras palavras descrêem em habilidades de telpatia/psicocinese e/ou similares oriundas de e somente de seres humanos vivos, baseando-se no que eu chamaria de reducionismo espiritual ou preternatural. 
f) Corporativismo científico: se todas as forças causais do universo são físicas, logo, naturais, cientistas gozam de elevado status social, pois lhes compete o Poder de *iluminar* o conhecimento frente ao desconhecido.  Na defesa dessa hegemonia cultural, eles, em geral, escarnecem de tudo aquilo que se apresenta como perigoso
 aos pressupostos metafísicos do atual paradigma científico (o 
materialismo). Seria por demais ingênuo imaginar que a resistência 
científica a anomalias reside apenas numa salutar prevenção intelectual 
de "tentar enquadrar fenômenos apenas aparentemente anômalos dentro do conhecimento já estabilizado".
 Cientistas têm por séculos esforçado-se para suprimir o irracional, 
combatendo, felizmente com êxito, dogmas religiosos que emperram o 
progresso do conhecimento humano. Todavia, admitir a existência de anomalias, tal como a psi, é colocar em risco o prestígio que a comunidade científica goza em sociedade, diga-se, ainda muito recente em termos históricos.
g) Ciência capitalista:
 muitos cientistas são serviçais de interesses empresariais e militares.
 Seguem carreiras dentro de instituições e organizações profissionais 
que esperam validar seus interesses. “O medo de percalços na 
carreira, da rejeição de colaborações por parte de periódicos 
especializados, do corte de verbas e da penalização máxima, a demissão, impede que eles se afastem demasiado da ortodoxia vigente, pelo menos em público” (Sheldrake, p. 133).
SUBVERTENDO O PENSAMENTO
Acima, em apertada síntese, observamos as duas visões construídas na modernidade. Embora a segunda perspectiva, o mecanicismo-materialista, seja hegemônica nos tempos atuais, disso não decorre que o dualismo supernaturalista tenha
 se extinguido. De fato, essas duas formas de compreender o universo 
continuam fortes no ocidente, embora quase sempre em contextos 
distintos. Para maior parte dos cristãos, o homem continua tendo um 
lugar especial no cosmos, e o sobrenatural, quando não relacionado a 
figuras do cristianismo, persiste como fruto de forças sinistras que 
tentam influenciar o homem em direção ao caminho do pecado. Por outro 
lado, a comunidade científica, majoritariamente fisicalista, iguala a mente ao cérebro ou a reduz aquilo que ele faz, como um software "rodado" num computador.
Na
 segunda metade do século XIX, esse cenário, agressivo ao paranormal, já
 havia se consolidado. Os anos que se seguiram até a atualidade só 
ratificaram a ascensão social da ciência, ao passo que a Igreja teve que
 partir para formas mais suaves de discurso.
(...)
os
 membros do Conselho da Trindade tinham que se declarar membros fiéis da
 Igreja da Inglaterra, o que implicava na aceitação dos Trinta e Nove 
Artigos. Mas as descobertas recentes tornaram difícil aceitá-los como o 
requeria a Igreja, que ainda acreditava que em 4004 A.C. o mundo havia 
sido criado numa semana. Sidgwick fez o que pôde. Com desesperado ardor 
estudou hebreu a árabe, teologia e filosofia. Mas o cristianismo de 
então e os novos conhecimentos eram como óleo e água. Jamais se 
misturavam. Assim ele renunciou à sua qualidade de Membro do Conselho e 
ao cargo de Assistente (Heywood, 1993).
Contudo, Sidgwick desfrutava de ilibado prestígio, e logo a Trindade lhe abriu exceção, criando uma Cadeira de Ciência Moral, sem imposições teológicas,
 nomeando-o suplente. Mais tarde chegou a Lente de Moral e Filosofia 
Política e Cavaleiro Professor de Filosofia Moral (ibid, p. 29).
Aos sessenta anos, Sidgwick começou a pesquisar o Espiritualismo,
 mas esses resultados iniciais foram desastrosos. Em 1860, conheceu na 
Trindade um brilhante jovem, que mais tarde se tornou um dos maiores 
eruditos do período vitoriano, Frederic Myers. Em 1869, Myers voltou à 
Universidade para defender sua tese sobre ciência moral. Nesse intervalo
 aproveitou para especular sobre o impacto dos fenômenos parapsíquicos 
sobre questões fundamentais da Natureza e da personalidade humana. "À 
paixão de Myers pela verdade era tão forte que o levava a regiões em que
 o escrúpulo intelectual ou social teria sido fatal (...) ele 
'mortificava' seu amor próprio (...) e tornava-se um modelo de 
paciência" (William James, apud ibid., p. 34). Naquele seu retorno à 
Trindade, ele uniu-se definitivamente a Sidgwick,
Em
 minhas perplexidades, senti-me atraído por Henry Sidgwick como minha 
única esperança. Durante um passeio numa clara noite, que jamais me 
esquecerei, perguntei-lhe, quase sem pestanejar, se ele achava que, 
quando a Tradição, a Intuição e a Metafísica haviam fracassado em 
solucionar o enigma do Universo, havia ainda a possibilidade de qualquer
 dos atuais fenômenos observáveis - fantasmas, espíritos, ou o que fosse
 - pudesse se extrair algum conhecimento válido sobre o mundo invisível.
 Parecia-me que ele já havia conjeturado ser isto possível; firmemente, 
embora de maneira nada entusiasta, ele indicava alguns últimos oásis de 
esperança: e daquela noite em diante resolvi levar avante esta pergunta 
ao seu lado se pudesse (F.H.W Myers, apud ibid., p. 31-2).
Somando-se
 a eles, logo apareceu outra erudita figura que, como Myers, era perito 
em estudos clássicos. Era a vez de Edmund Gurney, de formação médica, 
com preparação em Londres e Cambrigde. A este trio, juntaram-se Lord 
Rayleigh (que em 1904 ganhou o Prêmio Nobel em Física), Arthur Balfour, 
depois Primeiro Ministro inglês, seu irmão e irmã Gerald e Eleanor 
Balfour, a qual mais tarde tornou-se a Sra. Sidgwick. Assim, em 
Cambridge, foi constituído o primeiro braço da futura Society for Psychical Research.
De outros pontos da Inglaterra, em Oxford e Londres, demais intelectuais subversivos começaram a provocar o status quo. William Barrett, professor de física no Royal College of Science for Dublin apresentou uma pesquisa sobre hipnose à Associação Britânica para o Avanço da Ciência. A seção de biologia chocou-se com o trabalho, e censurou a
 apresentação. Graças ao voto de Alfred Russel Wallace, que 
paralelamente a Darwin desenvolveu a teoria da evolução, a pesquisa de 
Barrett foi apreciada pela comissão de antropologia. Anos mais tarde, a 
hipnose passou a ser um fenômeno incontestável (ibid., p. 31-33).
Em 1867 foi fundada a London Dialectical Society.
 Em razão da popularidade do espiritualismo, esta sociedade resolveu, em
 1869, instituir um comitê composto de 33 estudiosos para investigar as 
alegadas manifestações de espíritos. O relatório foi apresentado ao 
conselho da sociedade em julho do ano seguinte, sendo vetada sua 
publicação, eis que favorável a realidade de alguns fenômenos anômalos 
(a exemplo do movimento de objetos sem contato, músicas paranormais, 
tiptologia, materialização de formas humanas, etc.). O receio de 
divulgar esses acontecimentos heréticos só permitiu a publicação do 
relatório no ano posterior, e mesmo assim em caráter privado.
Barrett,
 que já havia dado com a cara nas portas quando recebeu um tremendo 
"não" da Associação Britânica, quando solicitara a criação de um comitê 
para investigações, finalmente logrou êxito numa conferência em 1882, ao
 propor a fundação da Society for Psychical Research (S.P.R), 
instituição ainda ativa que conta em sua biografia com os mais célebres 
pesquisadores, incluindo quatro prêmios Nobel, John William Strutt (Lord
 Rayleigh), Charles Richet, J. J. Thomson e Henri Bergson, notórios 
intelectuais que posam na história dessa Sociedade ao lado de outros 
gigantes do conhecimento, como William James, Henry Sidgwick, 
William Crookes, F. W. H. Myers, Sir Oliver Lodge, Alfred Russel 
Wallace, F. C. S. Schiller, William McDougall, C. D. Broad, Robert H. 
Thouless, G. N. M. Tyrrell, Gardner Murphy, Carl Jung e Ian Stevenson.
Olhando para trás, pode-se considerar a SPR como uma das investidas mais críticas, isentas e sóbrias em relação a psi (se
 não a mais importante). Desde o início, a filiação à Sociedade não 
implicava na aceitação de nenhum dos fenômenos investigados. Um dos 
princípios sociais era "abordar os vários problemas sem preconceitos ou 
prevenções de qualquer espécie, e com o mesmo espírito de exata e 
imparcial investigação que habilitou a Ciência a solucionar tantos 
problemas, outrora não menos obscuros nem menos acaloradamente 
debatidos" (ibid., p. 40).
Ao
 longo dos tempos, os membros e colaboradores da Sociedade produziram 
uma massa absurdamente gigantesca de evidências a favor de manifestações
 psíquicas paranormais, inclusive a de mentes desencarnadas serem 
capazes de se comunicar com algumas pessoas especialmente dotadas. Com 
apenas sete anos de existência, o grupo destinado a investigar telepatia
 já havia produzido mais de mil e duzentas páginas de provas em apoio. 
Sidgwick  e outros acreditavam que suas descobertas iriam, na pior das 
hipóteses, fazer com que o mundo as considerassem. Basta olhar para o 
lado e verificar que a aspiração de Sidgwick não se concretizou. O mundo 
contemporâneo continua completamente desinformado, catatônico e hostil a
 psi. Seja como for, o comportamento beligerante em face do 
paranormal, claro, já era intensamente sentido pelos pioneiros da 
pesquisa psíquica.
disseram-nos
 algo rusticamente que assemelhando-nos a todos os demais loucos que 
colecionavam contos de velhas e solenemente registravam truques de 
impostores, nós ainda nos tornávamos mais ridículos simulando objetivos 
de uma sociedade científica e envernizando esta imbecil falta de senso 
com gírias técnicas (Sidgwick apud ibid., p. 38).
Myers comentou em A Personalidade Humana:
hoje
 escrevo com plena consciência do escasso valor que se dá, geralmente, 
aos estudos que realizo. Hoje em dia um livro sobre o tema que enfrento 
deve esperar não somente críticas legítimas e justificadas, mas também o
 desdém e a oposição que excitam naturalmente toda novidade e toda 
heterodoxia (p. 8).
Já o Nobel Charles Richet:
todos
 aqueles que publicaram as suas experiências sabiam que por essa 
publicação comprometiam seu renome científico, expondo-se às zombarias 
de seus colegas e aos sacarmos do povo. Não é, pois, com satisfação que 
se entra nessa batalha (...) Não se imaginam as angústias interiores por
 que passa um sábio assim que se lhe apresenta um fenômeno 
extraordinário, anormal, cruelmente inverossímil (p. 89). 
Nos
 dias correntes, a Sociedade possui um jornal, par-revisado, com 
inúmeros volumes e publicações importantes, assinadas por cientistas, 
filósofos e estudiosos bastante respeitáveis. Mas porque a 
Parapsicologia prossegue sendo ignorada pelo estabilishiment, o 
fator de impacto (que mede o poder de influência de uma publicação 
dentro da comunidade científica) não é dos mais significativos. Porém, 
como vimos,  isso é explicado basicamente em termos sociológicos. De um ponto de vista pragmático, para quem se preocupa avidamente com a verdade, isso é muito frustrante.
A POTENCIAL MUDANÇA DE VISÃO
Além
 do Espiritualismo, no século XIX, apareceram outros movimentos 
alternativos ao paradigma estatuído na modernidade (como a Teosofia, o 
Novo Pensamento e a medicina alternativa), que poderíamos chamar de os 
primeiros sinais daquilo que William Blake, em 1809, já havia denominado
 de New Age (em seu prefácio para Milton: a Poem). A Nova 
Era, ou Humanismo Cósmico, é um movimento espiritual, descentralizado, 
com raízes psicológicas na insatisfação frente a uma sociedade 
egoisticamente materialista e na necessidade de se conciliar uma vida 
espiritual com o progresso científico e tecnológico. Seguidores da 
filosofia New Age buscam maciçamente apoio nos ensinamentos de 
religiões mais abstratas do que o cristianismo, o que encontram nas 
doutrinas orientais (como o budismo, paganismo e o hinduísmo).
Essas
 pessoas não estão mais procurando um Deus para lhes dizer o que fazer, 
ou ajudá-las quando estão em problemas, ou puni-las quando são 
desobedientes, ou perdoá-las, mas estão realmente procurando dentro de 
si mesmas por todas essas coisas. Elas estão buscando a divindade dentro
 delas e se tornando auto-responsáveis (Roney-Dougal, pp. 16-22).
Aliás, o senso de responsabilidade sobre como o modo de vida pessoal pode afetar a sociedade e o mundo é uma das principais virtudes da Nova Era. 
Adeptos do Humanismo Cósmico também acreditam de forma contundente na conectividade intersubjetiva (e com a Natureza), o que leva a pressuporem a realidade de fenômenos psi
 (e de muitas tradições esotéricas e ocultas, até porque algumas delas 
foram antecedentes históricos da cultura New Age - como a astrologia, 
magia, alquimia e a cabala). E mais. Porque o ser humano estaria ligado,
 além de um nível sensório, aos outros (como telepatia) e à 
Natureza (clarividência), nossa responsabilidade, enquanto componentes 
da coletividade, aumentaria. Os pensamentos, com poder causativo, 
afetariam (para o bem ou mal) a vida das pessoas, bem como o próprio 
planeta. Dadas essas atenções, humanistas cósmicos preocupam-se bastante
 com a evolução da consciência.
Uma vez que partidários da Nova Era defendem a a existência de fenômenos psíquicos anômalos, muitos críticos de psi lançam a pesquisa psíquica dentro da gama de crenças místicas igualmente sustentadas pelos adeptos da New Age. Todavia, igualar telepatia e demais manifestações parapsicológicas a assuntos como Tarô, Mapa Astral, Gurus, Búzios, pirâmides, cristais, numerologia, Feng Shui, etc. só é justificável pela ignorância ou por uma estratégia de desqualificar maliciosamente a evidência.
Para começar, pode-se dizer que a (contra)cultura New Age é uma manifestação anti-modernista, uma alternativa em se conciliar o progresso à permanência de uma vida plena de significado, levada em comunhão com a natureza e com os outros. Nesse objetivo, humanistas cósmicos, objetivando superar o depressivo estado psicológico da humanidade criado pela filosofia materialista, agarram-se em velhas crenças e mitos de uma maneira irracional e, não raro, desprezam os benefícios da modernidade (como a própria ciência). Ao contrário disso, vê-se, de uma maneira geral, que pesquisadores de psi - e aqui eu poderia citar Dean Radin, Helmut Schmidt, John Palmer, Richard Broughton, Daryl Bem, Charles Honorton, William Braud, Joseph B. Rhine, Robert Rosenthal, Ian Stevenson, dentre tantos outros - não estão minimamente preocupados em reavivar a mitologia e a fé em divindades. Suas abordagem é exclusivamente naturalista, atendo-se em responder, de modo isento, tão só sobre anomalias aparentemente relacionadas ao psiquismo.
Além disso, se fôssemos enquadrar a pesquisa psíquica num movimento social, ela deveria ser vista como uma importante representação científica do pós-modernismo construtivo, que, ao contrário da Nova Era, volta-se a uma revisão crítica (cultural e intelectual) da modernidade e também de períodos anteriores.
Uma vez que partidários da Nova Era defendem a a existência de fenômenos psíquicos anômalos, muitos críticos de psi lançam a pesquisa psíquica dentro da gama de crenças místicas igualmente sustentadas pelos adeptos da New Age. Todavia, igualar telepatia e demais manifestações parapsicológicas a assuntos como Tarô, Mapa Astral, Gurus, Búzios, pirâmides, cristais, numerologia, Feng Shui, etc. só é justificável pela ignorância ou por uma estratégia de desqualificar maliciosamente a evidência.
Para começar, pode-se dizer que a (contra)cultura New Age é uma manifestação anti-modernista, uma alternativa em se conciliar o progresso à permanência de uma vida plena de significado, levada em comunhão com a natureza e com os outros. Nesse objetivo, humanistas cósmicos, objetivando superar o depressivo estado psicológico da humanidade criado pela filosofia materialista, agarram-se em velhas crenças e mitos de uma maneira irracional e, não raro, desprezam os benefícios da modernidade (como a própria ciência). Ao contrário disso, vê-se, de uma maneira geral, que pesquisadores de psi - e aqui eu poderia citar Dean Radin, Helmut Schmidt, John Palmer, Richard Broughton, Daryl Bem, Charles Honorton, William Braud, Joseph B. Rhine, Robert Rosenthal, Ian Stevenson, dentre tantos outros - não estão minimamente preocupados em reavivar a mitologia e a fé em divindades. Suas abordagem é exclusivamente naturalista, atendo-se em responder, de modo isento, tão só sobre anomalias aparentemente relacionadas ao psiquismo.
Além disso, se fôssemos enquadrar a pesquisa psíquica num movimento social, ela deveria ser vista como uma importante representação científica do pós-modernismo construtivo, que, ao contrário da Nova Era, volta-se a uma revisão crítica (cultural e intelectual) da modernidade e também de períodos anteriores.
O pós-modernismo vai além do moderno, visa transcender o preconceito, a alienação, e os -ismos
 da contemporaneidade (como o nacionalismo, consumismo, individualismo, 
 etc.). E não é só. Ele abre espaço à percepção extra-sensorial, ao 
criticar as premissas da sociedade atual, inclusive aquelas que rejeitam
 dogmaticamente crenças erigidas desde a Antiguidade à Idade Média.
Assim, a pós-modernidade é um movimento de vanguarda. Ela, repita-se, visa balançar os pressupostos injustificados, sejam os erguidos pelo mundo moderno ou então as crenças e os mitos Antigos. O pós-modernismo construtivo é "o ir além da modernidade".
 Ele é mais do que um paradigma anti-modernista, porque não está em 
oposição aos avanços da sociedade vigente, mas apenas a de revisar as premissas das worldviews anteriores, apesar de sempre se questionar se a humanidade pode chegar a uma posição mais digna do que ocupa segunda a perspectiva materialista.
Mas esse questionamento, ao contrário do que o ortodoxo poderia
 sustentar, é racional, porque o pensamento pós-moderno usa as 
conquistas da própria modernidade (como a razão, o criticismo e a 
ciência) para questioná-la. Especificamente no nosso tema, podemos dizer
 que pesquisadores de psi valem-se de estudos de casos, testes 
estatísticos, protocolos duplo-cegos, publicações par-revisadas, dentre 
outros procedimentos e técnicas que os outros ramos da moderna ciência 
"comum" se aprazem, e com isso tem conseguido replicar a evidência de psi, contribuindo para as bases científicas de uma nova (quem sabe?) perspectiva de mundo, uma que estenda o conceito e as habilidades da mente, redefinindo a natureza da personalidade humana para algo além de um mero epifenômeno. Nesse sentido, Dean Radin, um dos maiores pesquisadores psi na atualidade, cientista do Institute of Noetic Sciences, veio a professar:
Antecipo
 que a era atual irá evoluir para uma 'era da integralidade', em que a 
perspectiva científica do mundo poderia orbitar em torno de conceitos holísticos.
 Ela poderá começar por volta da metade do século XXI e continuar a 
florescer durante o futuro previsível (...) A mente continuará a ser 
percebida como um inter-relacionamento diâmico entre o cérebro e a 
mente; contudo, será encarada como mais que um processo emergente, talvez como o primeiro motor de todo o processo" (2008, p. 238-9).
A evidência de uma interação paranormal assinala para necessidade de uma filosofia pós-moderna. A começar porque traz a possibilidade de se unir ciência e espiritualidade, esta entendida sem nenhuma conotação religiosa, mas como um conjunto de experiências pessoais que levam a uma mudança positiva de vida (como nas experiências de quase-morte - EQMs); ou que revelam conectividades não-sensórias, sejam elas intersubjetivas (telepatia), ou com a natureza (clarividência e psicocinese) ou com o tempo (retro/precognição). (...) Em segundo lugar, psi, se genuína - como aparenta ser - modifica radicalmente os conceitos sobre a personalidade humana, lançando-a num lugar muito mais honrado do que a medíocre posição que ocupa em nossa sociedade mecanicista. Em terceiro lugar, a evidência de fenômenos psíquicos anômalos revela a urgência de uma nova "psicologia de vida",
 de uma reforma sobre aquilo que hoje valorizamos, uma vez que nossas 
emoções, pensamentos, valores, idéias e intenções, em suma, a subjetividade é mais responsiva do que até então se supunha. Em quarto lugar, a oportunidade de psi implicar na sobrevivência da personalidade após a morte concede a importante base transcendente para a teoria moral, já tão enfraquecida pela ideologia materialista. Em quinto lugar, reclama uma revisão sobre a epistemologia da ciência moderna (principalmente na biomédica e psicanalítica), uma vez que o "efeito do experimentador"
 não se restringiria tão-somente a influências sensoriais sutis, mas 
incluiria resultados de testes científicos sendo afetados pela 
expectativa de quem o participa, isto é, as mentes do experimentador e 
do experimentado ficariam entrelaçadas, extra-sensorialmente, afetando o
 próprio resultado da pesquisa, de acordo com suas esperanças, crenças e
 intenções.
Os
 diversos problemas criados e cultivados pela ordem mundial vigente (e 
aqui eu poderia mencionar o desenvolvimento de uma sociedade 
individualista, competitiva, conflituosa, mentalmente perturbada, 
superficial e desorientada quanto ao seu papel na realidade) reclamam para uma revolução sobre o modo de pensar,
 enfim, o surgimento de um novo paradigma que possa reverter o 
depressivo quadro que nos encontramos: como se estivéssemos trancados 
num vasto quarto escuro, com a chave em qualquer canto e sem saber a 
direção da porta. Meu palpite é que estamos quase completamente 
perdidos, unicamente iluminados por um filete de “luz” que entra pela 
fechadura. A um nível científico, eu poderia dizer, a exemplo do Nobel 
Charles Richet, que um dia se referiu à pesquisa psíquica como “a grande esperança”, que os fenômenos aqui discutidos são esse filete de “luz”. 
Eles são a principal (embora não a única) chance de termos uma descrição empírica e racional de certos fenômenos que podem revelar uma *realidade* mais ampla do que a observada pela estreita e reduzida visão materialista. Se essa oportunidade existe, por que não investigar? Uma postura é a prudência científica, não assumindo como verdade aquilo que demanda mais experimentação, outra é colocar uma âncora na mente, entrar num estado neurótico e, de fé cega, acreditar que não podemos "ser mais" do que reações eletroquímicas produzidas no cérebro e, paralelamente, ignorar uma gama de fenômenos que, apesar de estranhos e inabituais, podem refutar nossa visão (materialista) de mundo.
Um materialista poderia argumentar que o desejo de acreditar em algo além da matéria interfere com nossa objetividade, fazendo-nos interpretar coincidências sem sentido como “prova” do que desejamos acreditar. Contudo, como Tart esclareceu,
Eles são a principal (embora não a única) chance de termos uma descrição empírica e racional de certos fenômenos que podem revelar uma *realidade* mais ampla do que a observada pela estreita e reduzida visão materialista. Se essa oportunidade existe, por que não investigar? Uma postura é a prudência científica, não assumindo como verdade aquilo que demanda mais experimentação, outra é colocar uma âncora na mente, entrar num estado neurótico e, de fé cega, acreditar que não podemos "ser mais" do que reações eletroquímicas produzidas no cérebro e, paralelamente, ignorar uma gama de fenômenos que, apesar de estranhos e inabituais, podem refutar nossa visão (materialista) de mundo.
Um materialista poderia argumentar que o desejo de acreditar em algo além da matéria interfere com nossa objetividade, fazendo-nos interpretar coincidências sem sentido como “prova” do que desejamos acreditar. Contudo, como Tart esclareceu,
“pessoas
 certamente fazem coisas assim o tempo todo, em todas as áreas da vida! 
Mas, curiosamente, materialistas quase nunca aplicam esta linha de 
raciocínio (...) em sua própria demissão de eventos psi espontâneos como
 algo sem significado” (Tart, p. 94).
REFERÊNCIAS
Carter, Chris (2007). Parapsychology and the Skeptics: a scientific argument for the existence of ESP. Ed. Paja books.
Griffin, David Ray (1997). Parapsychology, Philosophy and Spirituality: a postmodern exploration. Ed. State University of New York.
Grosso, Michael  in Doore, Gary (1997). Explorações Contemporâneas da Vida Depois da Morte. Ed. Cultrix. 
Heywood, Rosalind (1993). O sexto sentido. Ed. Pensamento.
James, William (1986). Essays in Psychical Research. Ed. Harvard University Press.
Myers, Frederic (s/d). A Personalidade Humana. Ed. Edigraf.
Radin, Dean (2008). Mentes Interligadas. Ed. Aleph.
Richet, Charles (1976). A Grande Esperança. Ed. Lake.
Soney-Dougal, Serena (1992). Some
 Thoughts Inspired by the Essay Title: "How the Scientific 
Establishment's Acceptance of ESP and PK Would Influence Contemporary 
Society". Excepcional Human Experience 10, no. 1. 
Sheldrake, Rupert (2003). Sete Experimentos que Podem Mudar o Mundo. Ed. Cultrix. 
Tart, Charles (2009). The End of Materialism. How Evidence of the Paranormal Is Bringing Science and Spirit Together. Ed. New Harbinger Publications, Inc. 
 
 
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