quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Burnbit Ou O Chuck Norris Dos indexadores .torrent

É patente para usuários avançados, o quase total desconhecimento que a maioria dos usuários que baixam programas da net e até dos próprios fabricantes de software têm ao protocolo BitTorrent. Um sistema que aumenta a velocidade de download de acordo com a demanda não soa apenas espantoso, mas também econômico e bem mais funcional que os tradicionais links HTTP, que para início de conversa, não têm na transferência de arquivos sua principal função.
Vemos cases interessantes de bom uso do BitTorrent, como a distribuição de imagens do Ubuntu, ou a Blizzard com seu StarCraft II, ou ainda o Opera, que até no modelo de distribuição inova. Mas são casos isolados, o que deveria ser regra é exceção.

A frustração de baixar um arquivo via HTTP em velocidade lenta-quase-parando pode estar com os dias contados no que depender do inovador Burnbit. Em dois passos, ele transforma qualquer link para download convencional num arquivo *.torrent, que pode ser compartilhado e usado como se tivesse sido criado da maneira comum, usando um tracker e tudo mais.
Dê uma zoiada nas imagens para compeender o processo:
Passo 1: entre a url (endereço Web do arquivo) eclique no botão "burn ao lado do formulário
A vantagem deste tracker do Burnbit é que o arquivo não “morre”, como é comum nos arquivos torrent clássicos, já que o arquivo está hospedado em um servidor HTTP. Por isso, o usuário sempre terá uma fonte completa para download, mesmo que não existam outros usuários compartilhando o arquivo ao mesmo tempo.
Passo 2: espere o servidor  do site processar o arquivo;

O bichinho é facil de lidar, sem cadastro, nem passos complicados. Basta colar o endereço do arquivo; o site se encarrega da “conversão”. Estando ela finalizada, uma página com estatísticas do arquivo é exibida — com direito a URL amigável e tudo. E claro, o arquivo pronto para ser baixado pelo uTorrent ou programa similar
Passo 3 : Clique em "download torrent", como indicado na setinha


Para quem quer distribuir alguma coisa, mas não tem cacife para bancar uma hospedagem decente e com limite de tráfego alto, o Burnbit é uma ótima alternativa!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Interpretar e ouvir

Um texto de impacto épico colado pelo Paulo Brabo.

Um mito “rompido” é um mito que foi desmascarado; admite-se agora que é um mito, não sendo mais considerado uma fotografia objetiva e verdadeira da natureza última da realidade, nem uma descrição objetiva de como essa ordem veio a existir. Ao contrário, encontra-se agora incluído entre diversas construções possíveis igualmente subjetivas, impressionistas e imaginativas, todas criadas por uma comunidade a partir de suas experiências iniciais, quase rudimentares, com o mundo. De fato, uma vez que os ensinos essenciais do judaísmo são caracterizados e aceitos como míticos, passamos a ter um mito “rompido”.

Não há como superestimar a natureza delicada desse momento do nosso crescimento religioso. Há três possíveis reações diante de um mito rompido. A primeira é rejeitar por completo a noção de mito, reverter para uma compreensão literalista da religião, insistir que todos os seus ensinos são objetivamente verdadeiros, fechar olhos e ouvidos, negar aquilo que aprendemos e voltar ao porto seguro do literalismo.

A segunda é proclamar que o mito rompido está “morto”: efetivamente descartá-lo como “meramente” um mito, como claramente ilusório, como deliberada ficção. Uma expressão típica dessa postura é dizer: se o judaísmo “não passa” de um mito, porque continuar sendo judeu?

A terceira possibilidade é abraçar o mito como “rompido” – e também como “vivo”. A melhor caracterização desse abraço sutil é chamar a experiência de “segunda ingenuidade”, ou “ingenuidade deliberada”. É “ingenuidade”, porque através dela recapturamos o estágio primitivo, quase infantil, de nossa percepção de como o mundo funciona. Mas é uma “segunda” ingenuidade, porque segue-se a um estágio de nosso desenvolvimento em que nossas faculdades críticas nos dizem que esse não é um retrato objetivamente verdadeiro, que Deus não criou o mundo literalmente do modo como relata Gênesis 1, ou que Deus não desceu literalmente sobre o monte para revelar a Torá a nossos ancestrais como relata Êxodo 19-23. Essas histórias não precisam mais ser vistas como literalmente e objetivamente verdadeiras – não precisando, aliás, ser vistas como literalmente ou objetivamente falsas. E é “deliberada”, porque é abraçada através de um ato consciente e ponderado da vontade.

O filósofo francês Paul Ricoeur captura o peso frágil e quase doloroso desse momento:

Isso quer dizer que podemos voltar talvez a uma ingenuidade primitiva? Na verdade não. Em todo modo, algo foi irremediavelmente perdido: o caráter imediato da crença. Mas se não podemos mais viver os grandes simbolismos do sagrado em conformidade com a crença original neles, podemos, na qualidade de homens modernos, almejar uma segunda ingenuidade na crítica e através dela. Em suma, é interpretando que podemos voltar a ouvir.

- O rabino Neil Gillman, expondo e aplicando categorias
   articuladas por Paul Tillich

"Eu era Cético"

“Eu era cético”, diz estudioso de percepção extrassensorial

Em entrevista ao iG, o professor Daryl J. Bem defende os resultados de sua pesquisa que diz provar que é possível prever o futuro.
 
Cristina Caldas, especial para o iG | 20/01/2011 14:50

Daryl Bem: de cético a defensor da existência da percepção extrassensorial
iG: Por que o artigo do senhor gerou tamanha discussão mesmo antes de ter sido publicado?


Daryl Bem: O público tem se interessado desde muito tempo em efeitos psíquicos. Nos Estados Unidos, a maioria das pessoas diz acreditar em percepção extrassensorial. Entre os indivíduos com nível superior, a percentagem de pessoas que acredita em ESP é ainda maior.


iG: Como o senhor responde às críticas referentes às análises estatísticas usadas no trabalho?

Daryl Bem: Estou preparando, junto com um estatístico, uma resposta às críticas. Trata-se de uma controvérsia muito mais ampla do que o criticismo ao meu trabalho.

iG: Quando e como o senhor se interessou em estudar percepção extrassensorial?


Daryl Bem: Sempre fui cético. Fui durante muito tempo um mágico performático que sabia disfarçar truques como percepção extrassensorial. A Associação Parapsicológica me convidou para fazer uma apresentação, para que eles pudessem se proteger contra truques em seus laboratórios.

Um dos pesquisadores me convidou a visitar o seu laboratório para garantir que seus procedimentos eram à prova de fraudes.

Fui lá e disse a ele que se ele tivesse resultados positivos, eu o ajudaria a publicá-los em uma revista importante (o que fizemos em 1994).

Com isso me convenci de que os dados deles eram fortes e decidi tentar meus próprios experimentos. Comecei os experimentos em 2003, cujos resultados se tornaram o artigo que está agora sendo discutido.


iG: O senhor realmente acredita que somos capazes de sentir o futuro? Se sim, qual é a evidência mais forte disso no seu trabalho?


Daryl Bem: Não são apenas meus próprios estudos, mas muitos outros estudos que têm sido conduzidos no campo, alguns eu discuto na introdução do meu artigo. Dentro das minhas próprias pesquisas, gosto particularmente dos dois estudos finais, de “facilitação retroativa da memória”.

Uma definição abrangente de Ciência

Do site em português do The Integral World,

A ciência é a religião de hoje. Se a ciência estabelecer algo, deve ser verdadeiro. Se a ciência não estabelecer algo, não pode ser verdadeiro. É assim que a filosofia moderna a tem.

Mas a ciência abrange toda a realidade? Já que a ciência é baseada no que os sentidos físicos (geralmente com a ajuda dos instrumentos) nos dizem, é sensato depender totalmente desta fonte de conhecimento? Quem já enxergou as emoções ou os pensamentos com o olho físico? Isso é razão suficiente para negar a existência deles? Ou estamos deixando algo escapar?

"Ausência de prova não é prova de ausência", podemos dizer. Acreditar que a ciência abrange TODA a realidade não é algo realmente científico, porque temos que negar outras formas de experiência humana, como nossos sentimentos de identidade mais profundos. Isso é o que podemos chamar de "cientismo".

Veja que a própria ciência não tem rejeitado a crença na alma, nas esferas superiores, nas realidades transcendentais, como muitas pessoas instruídas acreditam. Está na hora de corrigirmos este status extremamente desigual.

Basicamente, a realidade abrange pelo menos três domínios:

1. aquele que podemos ver com nossos sentidos,
2. aquele que podemos ver com nosso "olho interior",
3. aquele que vê, tanto externamente quanto interiormente: o Self. Repare que todos os três podem ser estudados de uma maneira científica! Mas qual é o significado de "científico"?

Wilber argumenta que a ciência de maneira alguma deve implicar em materialismo. Na verdade, ciência envolve três elementos:

1. Seguir uma instrução, injunção ou paradigma
2. Apreender algo sobre esta realidade específica
3. Comparar nossas descobertas com as dos outros.

Esses três "elementos" operam na ciência de uma forma óbvia: um astrônomo (1) olha através de um telescópio, (2) observa uma certa região do universo e (3) discute suas descobertas com colegas astrônomos (e NÃO conosco, meros mortais, um ponto muito importante).

Wilber defende a existência de dois outros tipos de ciência, que seguem o mesmo procedimento formal: A ciência mental ou social (o que os europeus chamam de Geisteswissenschaft) que não observa os objetos físicos, mas os significados mentais, que podem ser encontrados em documentos, estórias, mitos, relatos e livros. O significado de um texto não pode ser visto com o olho físico, mas apenas com o "olho da razão". Seguindo os três fios da ciência, a ciência mental é perfeitamente científica. (Lógico, os objetos mentais não são tão concretos quantos os físicos. Assim, as conclusões da ciência mental não podem equiparar às da física. Mas e daí?).

E há um terceiro tipo de ciência, segundo Wilber. Pois afinal a realidade compreende apenas coisas e pensamentos? E o princípio em nós que vê e pensa? O self que vê e pensa não pode ser visto e não é um pensamento. Mas pode ser abordado experimentalmente, por exemplo, na meditação. Assim, a "ciência espiritual" nasce. A meditação a yoga e a espiritualidade contam como "ciência" porque elas também seguem os três fios: (1) instrução – sentamos numa almofada por horas, (2) observação – percebemos um estado da mente, e (3) confirmação – discutimos nossas descobertas com colegas que também meditam.

Para concluir: Wilber defende três tipos de ciência, já que a realidade é composta de pelo menos três domínios, e todos os três domínios podem ser abordados de uma maneira experimental e, portanto, científica.

Traduzido por Priscila e Moacyr Castellani

O que é a mente?

Do esclarecedor blog Territorios da Mente.

Para o psiquiatra Augusto Cury (http://www.centroaugustocury.com/) a mente humana é um sofisticado e complexo campo de energia psíquica que coexiste e co-interfere com o campo de energia físico-química do cérebro. A energia psíquica transmuta-se ou transforma-se em energia física, e vice-versa.

O campo de energia físico-química está preso a um sistema de leis lineares, previsíveis e lógicas, enquanto o campo de energia psíquica ultrapassa os limites dessas leis.

A psique também transmuta tensões emocionais no campo de energia cerebral gerando possíveis microalterações metabólicas psicossomáticas e sintomas psicossomáticos, às vezes clinicamente detectáveis.

De acordo com a neurobiologia, a mente emerge a partir da actividade do cérebro e é moldada pela estimulação externa e a experiência interpessoal (vivências).

O conceito de mente pode ser definido de diferentes maneiras consoante nos colocarmos, por exemplo, na perspectiva da investigação filosófica, neurofisiológica ou das ciências psicológicas.

Segundo o psiquiatra António Imbasciati “há uma certa tendência geral em considerar o complexo dos sentimentos, afectos e emoções como um conjunto de processos psíquicos diferentes do que constitui os processos cognitivos (pensamento, memória, inteligência, etc.)” reservando-se para estes últimos o termo “mental”. Este modo diferente de dividir a mente em “psique” (afectos) e processos “mentais” (cognitivos) tem origem na concepção medieval da psicologia como “ciência da alma” e da contraposição dos dois princípios – matéria e espírito – na actividade humana.

A mente envolve todos os comportamentos, desde os mais simples aos mais complexos sendo sustentada por um ou mais "programas", facto que remete para a existência da percepção, da memória e da aprendizagem como funções determinantes para a função mental.

É importante salientar que não existem funções psíquicas ou mentais isoladas. A mente é um todo onde decorrem simultaneamente actividades conscientes e não conscientes.

Na verdade, ela resulta de padrões no fluxo de energia e informações no interior do cérebro e entre cérebros, é criada no seio da interacção dos processos neurofisiológicos internos e das experiências interpessoais, a estrutura e o funcionamento do cérebro são determinadas pelo modo como as experiências (vivências e estímulos) moldam a maturação geneticamente programada do sistema nervoso.

A mente, que não pára de se desenvolver ao longo da vida, possui meios distintos de processar as informações e os estímulos oriundos do exterior e do seu relacionamento com outras mentes. Neste aspecto, é de destacar o papel das emoções que intervêm de forma activa na organização central do cérebro. Assim, a capacidade de um indivíduo organizar as suas emoções determina a capacidade da mente de integrar a experiência e de se adaptar a futuros focos de tensão.

Enquanto isso, Na terra Do Delta do Nilo...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Definições sobre Parapsicologia

Adaptado do blog Sem Tipo.

A parapsicologia é a ciência que estuda os fenômenos que envolvem as interações extra-sensoriais entre os seres humanos e o ambiente no qual estão inseridos, onde a mente está interagindo diretamente no meio ambiente sem o uso dos órgãos físicos e sensoriais, sendo esses fenômenos também conhecidos como fenômenos paranormais, como por exemplo pessoas que entortam colheres sem tocar nelas, apenas com a "força" da mente.

Basicamente a Parapsicologia tenta provar que o mundo subjetivo e o objetivo tem sim uma grande ligação ( ou que pelo menos a separação é apenas como uma fina parede de vidro) e essa ligação pode se tornar tão forte, que se exercitada, qualquer ser humano poderia fazer coisas incríveis. A abrangência dos estudos parapsicológicos é grande, alcançando os fenômenos de quase morte, experiências fora do corpo, telepatia ( ou simulcognição subjetiva ), clarividência ( ou simulcognição objetiva ), psicocinese e precognição.

O ladro negro do sistema de Revisão por Pares em publicações científicas

Outro longo artigo Kibado, desta vez do blog Parapsi.

No blog de George P. Hansen (publicação de 29 de novembro de 2007 ) há uma elucubração sobre os prejuízos à pesquisa psi decorrentes da criação dos termos "Parapsicologia" e "parapsicólogos". Hansen cita um artigo de Ian Stevenson, "Are Parapsychology Journals Good for Parapsychology?", que discute sobre a possível inconveniência de jornais especializados (como o Journal of Parapsychology), quando talvez fosse mais fácil a aceitação de psi pelo mainstream, caso fosse ela discutida dentro da imprensa científica convencional, utilizando-se termos científicos correntes da psicologia e de outras ciências consagradas. Hansen cita ainda a opinião de Marilyn Schlitz, ex-presidenta da Parapsychological Association, que declarou evitar utilizar a palavra "Parapsicologia" a fim de não sofrer consternação e zombaria. Penso que eles possuem alguma razão, à medida que tal estratégia, sendo mais discreta, poderia despertar menos a prevenção mental sobre assuntos estranhos ao paradigma, se bem que seria difícil não se utilizar termos como telepatia ou clarividência os quais igualmente causam extremo choque e aversão à ciência ortodoxa. Em todo caso, o texto abaixo parece mostrar que a utilização de jornais parapsicológicos tenha sido uma verdadeira necessidade diante da resistência de cientistas frente a assuntos inovadores que venham refutar seus entendimentos estabilizados. Esta resistência é fundamentada não só no preconceito acadêmico, mas também na própria indisposição psicológica humana em abandonar pilares de conhecimento custosamente construídos, mesmo havendo evidências de que estejam em bases falsas. Mas a resistência pode também se corporificar no veto de artigos científicos endereçados a jornais científicos populares, não em nome da qualidade ou da boa ciência, mas sim em razão de interesses econômicos em financiamentos para pesquisas, reconhecimento e prestígio acadêmico e pela influência de grandes Companhias. O texto abaixo mostra alguns exemplos do jogo sujo e da má qualidade que há por traz da ciência "normal", ao mesmo tempo que exemplifica o porquê artigos que relatam evidências de assuntos não-convencionais ou contrários à ciência estabelecida (como os da parapsicologia ou temas transcendentais) não são divulgados na imprensa científica popular.

fonte: A Qualidade da Mentira - como cientistas trapaceiam

A Qualidade da Mentira - Propaganda e Preconceito na Representação Pública da Ciência

Um excerto do relatório apresentado ao Comitê da Royal Society que investiga sobre a "melhor prática em comunicar os resultados de novas pesquisas científicas ao público."


por John A. Hewitt, MA Ph.D


A Revisão Por Pares

A revisão por pares parece ter sido iniciada no século XVIII pelas Royal Societies de Londres, Edinburgo e Paris. De lá pra cá ela mudou um pouco. Os cientistas que querem publicar na mídia científica devem escrever um artigo sobre seu trabalho e enviá-lo normalmente em três cópias para o editor de um jornal. O editor então seleciona normalmente dois "árbitros" que devem escrever relatórios a respeito da qualidade e da conveniência do artigo para fins de publicação. Os árbitros são descritos como "especialistas" no campo, mas eles são anônimos, e suas identidades não são reveladas ao autor. Os relatórios deles são passados ao autor e determinam se o artigo será ou não publicado sem alterações, se a publicação dependerá de certas modificações ou se será rejeitado por não se ajustar à publicação.

A revisão por pares também é usada para determinar se um cientista deveria ser subsidiado em algum projeto de pesquisa em particular. Os cientistas que precisam de financiamentos para um projeto escrevem um pedido de concessão e enviam-no a uma agência de financiamento, um órgão governamental ou uma instituição beneficente. A agência envia o pedido de concessão para os pares revisores que, novamente, são anônimos. Seus relatórios são passados ao autor e o pedido de concessão será subsidiado ou não de acordo com os relatórios daqueles.

Imunidade da Revisão por Pares

Embora a maioria dos cientistas seniores aprove a revisão por pares, eles próprios idealizam ficar de fora dela. A maioria das organizações da ciência nacional, como a Royal Society ou a US National Academy of Sciences, circula jornais internos nos quais cientistas de elite podem publicar livremente fora da vigilância da revisão por pares.

Comentários sobre o Funcionamento da Revisão por Pares

Executado corretamente, a revisão por pares pode produzir relatórios valiosos que ajudam um autor a melhorar seu trabalho. Os cientistas freqüentemente expressam sinceros agradecimentos aos revisores anônimos pelas críticas úteis e construtivas destes. Em outras palavras, a revisão por pares pode ser um controle de qualidade com significado e conteúdo. Genuinamente ela pode melhorar a qualidade da ciência, mas infelizmente relatórios construtivos e significativos, que concedem um retorno útil e um criticismo real de líderes numa área, são a exceção, não a regra.

A maioria dos relatórios de revisão por pares é apressada e superficial, não demonstrando nenhuma intenção real de empenho com o conteúdo do artigo sob revisão. Freqüentemente eles apenas "discordam" do autor; parecem escritos por pessoas que não entendem o campo ou que realmente são muito ocupadas e acham que isto é um fardo adicional que não compensa o aborrecimento. Em seu pior, os relatórios de revisão por pares retratam estúpidos descontroles por parte dos revisores que perseguem programas de trabalho que são bastante contrários às supostas metas da revisão por par. Muitos desses relatórios poderiam, se assinados, levar a processos por difamação. (veja, por exemplo, The Subjective Side of Science (1974).) Porém, os editores do jornal e as agências de financiamento parecem incapazes de distinguir um tipo de relatório do outro, passando todos eles aos autores.

Exemplos de Revisão por Pares na Prática

Alguns exemplos poderiam dar uma idéia do nível que a revisão por pares pode realmente descer. Um exemplo famoso e extenso de reporte aconteceu a respeito do relatório sobre a descoberta do vírus HIV, o agente pensado causar a AIDS. (veja, por exemplo, o livro Beyond Love de Dominique Lapierre). Este vírus foi descoberto por Montagnier em Paris. (outro quem independentemente descobriu foi Karpas, em Cambridge, mas ele não entra nesta história.) A descoberta deste vírus foi um avanço importante e Montagnier enviou um artigo descrevendo-a para o jornal Nature que rejeitou o artigo em seus fundamentos, pelo que eu lembre, porque os autores deveriam ter cuidado com a contaminação cruzada durante o trabalho deles. Isto é uma crítica extraordinária; não existia nada que sugerisse que tal contaminação cruzada poderia ter ocorrido e ninguém poderia dirigir um laboratório de virologia sem tomar cuidado com isso. Falar isso para um instituto internacionalmente renomado de virologia é como dizer a um ótimo chefe de cozinha para usar a quantidade certa de sal - a exemplo de muitos relatórios de árbitros, isso é exatamente um comentário superficial, sem sentido e que não ajuda ninguém. Nature não descobriu a identidade do árbitro.

Naquele tempo, o reconhecido líder no campo era Robert Gallo, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH), em Bethesda, Maryland, mas existia atrito entre seu grupo e os concorrentes franceses.

Ainda, havendo atrito ou não, o isolamento [do vírus] feito em Paris foi enviado a Bethesda para caracterização adicional onde foi tratado de um modo que fez a contaminação cruzada não apenas possível, mas absolutamente certa. Ao tentar cultivar o vírus em cultura, o laboratório de Gallo habitualmente misturou o isolamento de muitas outras fontes antes de tentar a cultura do vírus. Foi isso que eles fizeram com o isolamento francês, eles misturaram-no com outros e cultivaram em cultura. Daquela mistura eles obtiveram sucesso ao desenvolver um vírus e eles então reportaram este vírus como deles, como sendo uma descoberta original.

Vamos repetir. O laboratório NIH recebeu uma amostra de um internacionalmente renomado instituto francês que acreditava que ali estava contido o agente causador da AIDS. Os franceses pediram ajuda para melhorar a caracterização de sua amostra, mas, na realidade, a amostra deles foi misturada com cinco outras e um vírus cultivado de uma cultura foi reivindicado como uma nova descoberta, como o agente causador da AIDS.

Um prêmio Nobel poderia ter sido obtido caso não estivesse envolvida uma combinação de sorte, da imprensa, de política e de dinheiro. A sorte foi que o HIV é um vírus incomum que rapidamente se modifica. Como resultado, os isolamentos podem ser distinguidos uns dos outros. Como mais isolamentos se sucederam, tornou-se claro que o primeiro vírus de Gallo era realmente aquele proveniente do isolamento do grupo francês. A imprensa empreendeu a forma de investigação jornalística por John Crewdson, que publicou um longo artigo num jornal descrevendo a evidência serológica que provava a precedência de Montagnier. A Política interveio na forma de ação do governo francês (o assunto quase foi considerado um incidente internacional) e a panela inteira estava fervendo pelo dinheiro que poderia ter sido obtido pelo testes de AIDS os quais usariam as propriedades daquele isolamento.

O resultado merece cuidadoso pensamento. Os investigadores subseqüentes não tiveram nenhum padrão profissional para julgar as ações do grupo NIH. Então, eles investigaram e julgaram sob critérios legais aplicados à fraude, critérios que elevaram a dificuldade de prova frente ao grupo NIH. A investigação determinou que as ações do grupo não provaram uma intenção em roubar os isolamentos franceses. Então o grupo NIH não foi culpado de malversação, apenas de falta de coleguismo e Gallo manteve seu posto sênior no NIH (O laboratório de Montagnier parece ter sido desestruturado devido às tensões).

Wachslicht-Rodbard e Soman

Este episódio aconteceu no final dos anos 70. Helena Wachslicht-Rodbard estava no grupo de trabalho do NIH e Vijay Soman era um Professor assistente em Yale; é um caso incomum no qual a identidade de um árbitro é conhecida. Rodbard apresentou um estudo sobre respostas da insulina durante a anorexia e escreveu a respeito num artigo endereçado ao New England Journal of Medicine. O artigo foi enviado para o chefe de Soman, Philip Felig, para a revisão por pares e este o passou para Soman a quem, o primeiro acreditava, estar apresentando um estudo virtualmente idêntico. A convergente importância na prioridade, significava que Felig e Soman tiveram um interesse em não publicar o artigo de Rodbard. Felig rejeitou o artigo e Soman começou a atualizar seu próprio "trabalho". Realmente, Soman virtualmente não fez nenhum trabalho, ele inventou dados para ajustá-los com os resultados de Rodbard e enviou o artigo para o American Journal of Medicine. Aquele jornal enviou-o para o chefe de Rodbard, Jesse Roth, para a revisão, que o passou para ela. Soman era um cientista indiano cujo inglês era um pouco limitado e ele não copiou apenas a substância dos resultados de Rodbard, como também exatamente algumas de suas frases. Rodbard identificou o plágio e ela começou a reclamar e exigir uma investigação.

O plágio foi um fato claro, mas mesmo assim levou 18 meses para Yale empreender uma investigação que concluiu que o artigo inteiro de Soman era um plágio e uma invenção; ele simplesmente não fez o trabalho que quis publicar. (este episódio é revisado em Broad e Wade (1982)).

A desonestidade e a revisão por pares não são uma combinação confortável. A revisão por pares não é capaz de evitar a desonestidade, mas dá aos cientistas honrados um problema sério. Se cientistas honrados têm resultados importantes que precisam reportar para a comunidade científica, a revisão por pares exige que eles depositem total confiança na retidão moral dos par-revisores. Aqueles então devem saber que, se problemas surgirem, os jornais e as instituições envolvidas farão de tudo para tampar e varrer os problemas para baixo do tapete, mesmo que seja para proteger fraudes científicas e destruir carreiras de cientistas honrados.

Efetividade da Revisão por Pares

A revisão por pares não previne a fraude - e nunca foi projetada para isso. Porém, revisão por pares também não faz o que se alega fazer, ou seja, estabelecer padrões de qualidade. Peter e Ceci (1980) testaram a revisão por pares modificando ligeiramente artigos recentemente publicados em importantes jornais de psicologia (dentro de 18 a 32 meses) e re-submeteram-nos para o mesmo jornal. Dos 30 artigos re-submetidos, 3 foram reconhecidos como cópias pelos editores e 5 pelos revisores. Dos 22 restantes, apenas 4 foram recomendados para publicação, embora todos já tivessem sido aceitos como de padrão publicável. Os 18 restantes foram rejeitados por várias razões de aparentes justificativas profissionais. Parece que tais razões ou são fáceis de inventar ou padrões profissionais são muito elásticos.

O fato é que este tipo de estudo mostra que a revisão por pares pode ser simplesmente uma loteria. Estudos semelhantes têm uma importação similar para a revisão por pares à medida que esta é levada como critério para concessão de financiamentos para pesquisas.

Quando revisões por pares exibem um viés seletivo, elas não estão a favor da qualidade, mas sim de grandes e prestigiosos institutos ou famosos investigadores, às custas de institutos ou trabalhadores pouco conhecidos. Por exemplo, Blank (1991) comparou estudos simples-cego e duplo-cego, o último sendo aqueles em que a identidade dos candidatos a financiamentos não era conhecida pelos revisores. Essa circunstância reduziu o relativo sucesso de grandes e ricos institutos e aumentaram o de pequenos e modestos institutos, sugerindo que par-revisores normalmente favorecem grandes institutos. Isto pode explicar por que distintos e famosos cientistas tendem a exaltar as virtudes da revisão por pares como um sistema.

Resumo de Críticas sobre a Revisão por Pares

1. A revisão por pares não é aplicada como se alega ser.

2. Não funciona na prática. Cria uma loteria de artigos que serão publicados ou de projetos que serão subsidiados.

3. Seu anonimato favorece revisores irresponsáveis tendo em vista o modo como fazem o trabalho, como também os habilita a cometer plágios.

4. Os par-revisores normalmente têm interesse no trabalho que estão revisando, e freqüentemente um interesse em vetá-lo.

5. A revisão por pares é fortemente parcial a favor de cientistas de elite e de instituições que recebem vultosos fundos distribuídos para revisão por pares. É até capaz de validar a mentira da elite.

6. Mesmo quando a revisão por pares não favorece cientistas de elite, ela os concede liberdade em optar em não se submeterem a ela em razão de jornais que circulam internamente nos quais eles têm acesso sem serem revisados.

7. A revisão por pares milita contra publicação inovadora, desafiadora ou contra um trabalho original, especialmente daqueles laboratórios pequenos ou de indivíduos.

A revisão por pares é elitista, ideologicamente inclinada, parcial e de avaliação metodológica pro-convencional que convida à corrupção e ao plágio. Dizer para os cientistas individuais para submeterem seus trabalhos à revisão anônima por pares é como dizer a crianças que o playground as está intimidando a entregar o dinheiro que está no bolso delas para o tirano na esperança que este possa voltar a fazer parte disso.

NOTA MISERÁVEL DESTE BLOGGER:

Cientistas de verdade, acendam suas tochas e saim às ruas!!!

Folha de São Paulo noticia um "causo" de Parapsicologia

Adaptado da Folha de São Paulo.

Hélio Schwartsman

O mundo da ciência está em polvorosa. Daryl J. Bem, professor emérito de psicologia social da prestigiosa Universidade Cornell, escreveu um artigo no qual alega apresentar evidencias fortes em favor da Percepção Extrassensorial (PES), ou mais especificamente, a precognição, a capacidade de pressentir o futuro. Pior, o "paper" foi aceito para publicação pelo "Journal of Personality and Social Psychology", que tem revisão por pares e se conta entre os principais periódicos dos EUA nessa área.

Como não poderia deixar de ser, a notícia está fazendo barulho. Uma cópia do artigo circula pela internet e, antes mesmo de ele ser oficialmente publicado, já provoca acalorada polêmica, que pode ser acompanhada nas páginas de opinião do jornal "The New York Times" e na blogsfera científica e parapsicológica.

A comunidade acadêmica mais, digamos, ortodoxa se divide em dois grandes blocos: o dos que estão se divertindo com a história e o dos que estão indignados com ela. Em termos práticos, debate-se se o "journal" deveria ou não ter aceitado o artigo. O interessante, porém, são as possibilidades de discussão teórica que o imbroglio proporciona.

Muitos aproveitam a ocasião para falar mal do sistema de publicações científicas, outros criticam o uso da estatística que fazem certos departamentos das universidades americanas --notadamente que guardam parentesco com as ciências humanas, como a psicologia social. Há ainda quem prefira lançar-se em debates sobre a natureza da física ou sobre a epistemologia. Alguns chegaram mesmo a especular se tudo não passa de uma elaborada brincadeira do professor Bem, que já passou por Stanford, Harvard e goza de sólida reputação acadêmica.

Diga-se em favor do autor que seu "paper" é bastante honesto. Ele está ciente do vespeiro em que se meteu e convida outros pesquisadores a replicar seus experimentos. Não pretende oferecer interpretações acabadas. Todas as ideias que ele apresenta para explicar seus achados são apresentadas como hipóteses ainda no terreno da especulação.

A essa altura, o leitor deve estar se perguntando que diabos Bem achou. Na verdade, o artigo descreve nove experimentos distintos que ele realizou ao longo da última década. Seria exaustivo e ocioso repassá-los todos aqui, mas eles consistem basicamente em pôr 1.100 estudantes universitários para adivinhar o futuro, consubstanciado em tarefas como predizer se uma fotografia vai aparecer do lado esquerdo ou direito da tela do computador ou pressentir onde encontrar a próxima imagem erótica.

Em todas menos uma dessas adivinhações, sustenta o psicólogo, os alunos se saíram um pouco melhor do que o autorizado pelo mero acaso. No experimento mais picante, os jovens acertaram onde estavam as fotos sensuais 53% das vezes, contra 49,8% dos controles (imagens não eróticas). Haveria aqui, portanto, significância estatística, o que nos colocaria diante da famosa PES, adorada por roteiristas de cinema e, na mesma medida, abominada por cientistas, em especial os psicólogos. Mais ainda, se a PES é uma realidade, então o futuro afeta o presente (retrocausalidade), o que torna urgente modificar todos os livros de física, segundo os quais o tempo é linear.

Apesar dos cuidados tomados, nem Bem nem o "journal" escaparam às críticas. Os mais simpáticos ao autor, embora elogiem a iniciativa em nome da liberdade de pesquisa que deve caracterizar a ciência, são bastante céticos quanto a seus resultados. Não veem mal na publicação porque os resultados não serão reproduzidos em outros centros, de modo modo que a excentricidade de Bem não chegará a entrar para os anais da ciência. Por enquanto, três tentativas de replicar os experimentos fracassaram. Há outras em curso.

Vale aqui mencionar que o próprio periódico vai editar, na mesma edição do artigo favorável à PES, uma crítica severa a ele, escrita por estudiosos da Universidade de Amsterdã, na qual eles fazem restrições à metodologia estatística empregada por Bem. Para os holandeses, o professor emérito errou ao tratar os dados colhidos de forma exploratória com um instrumental concebido apenas para confirmar hipóteses. Ao fazê-lo, ele inadvertidamente superestimou as evidências estatísticas contrárias à hipótese de que o fenômeno não existe. Eles recalcularam os dados de Bem valendo-se de outras ferramentas (inferência bayesiana) para concluir que não têm significância.

O mundo, porém, não é composto apenas de pessoas tolerantes e gentis. Alguns dos que se meteram nessa polêmica reservam termos fortes para qualificar a pesquisa. "Loucura" e "assalto à razão" são alguns dos publicáveis. Há aqui, é claro, várias linhas de argumentação. De um modo geral, porém, elas sustentam que, como a existência de PES é uma tese extraordinária, só poderia ser publicada num "journal" se fosse sustentada por evidências extraordinárias, o que não é o caso mesmo se as conclusões de Bem fossem aceitas pacificamente.

Quem coloca o problema de forma veemente na página de debates do "Times" é Douglas Hofstadter, professor de ciência cognitiva da universidade de Indiana: "Se algo disso [a PES] fosse verdade, então todas as bases da ciência contemporânea ruiriam, e nós teríamos de repensar a natureza do universo. Por essa razão, publicar um artigo como esse é um ato muito grave e o fato de ter ocorrido revela que os editores provavelmente não compreenderam as implicações do texto".

É claro que Bem discorda. Ele termina seu artigo arriscando hipóteses para explicar suas conclusões sem recorrer a espíritos ou inteligências cósmicas. Infelizmente, apela a algo parecido, que é a mecânica quântica. Meu palpite é que, sempre que alguém vai buscar nos quanta justificativas para efeitos mirabolantes no mundo macroscópico, temos razões para desconfiar. Não porque tais efeitos sejam impossibilidades físicas, mas, pelo que sabemos, estão limitados ao universo dos átomos e suas partículas. Antes de recorrer a esse tipo de explicação, é prudente coletar novos dados e refazer as contas. E isso, aparentemente, Bem não fez.

É o mesmo raciocínio que se aplica à navalha de Occam. Não existe uma lei da física que impeça um dado fenômeno de ser provocado por uma miríade de causas complexas. Mas, conhecedores que somos da fértil imaginação humana --e de sua obsessão por encontrar padrões onde eles não existem--, devemos ficar com as barbas de molho e, antes de criar hipóteses muito complicadas, descartar as mais simples.

O bonito nessa confusão toda é que ela mostra a ciência em ação. Ainda que de forma um pouco atabalhoada, uma hipótese extravagante foi levantada e debatida. Está sendo testada e quase certamente será rejeitada. A liberdade de pesquisa foi preservada. Se despirmos a novela de seus exageros retóricos, o que se discute é se o primeiro filtro deveria ter sido o "journal" ou a comunidade acadêmica, através dos testes da replicação e do exame crítico. É claro que não é um sistema perfeito. Muito lixo é publicado (o ramo científico, afinal, virou uma indústria) sem objeções ou reparos porque são trabalhos anódinos que, por não trazerem conclusões polêmicas, passam quase despercebidos.

Vale concluir com a observação de que ainda precisamos avançar muito na promoção da cultura científica, a fim de oferecer ao cidadão ferramentas mais adequadas para ler e compreender uma notícia sobre ciência. Como observa Steven Pinker, hoje, nos meios universitários, é considerado aceitável (quase engraçado) que um intelectual se vanglorie de ter passado raspando em física e de ignorar o beabá da estatística. Mas ai de quem admitir nunca ter lido Joyce ou dizer que não gosta de Mozart. Sobre ele cairão olhares tão recriminadores quanto sobre o sujeito que assoa o nariz na manga.

Joyce e Mozart podem ser ótimos, mas eles, como quase toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. Já a cultura científica, que tratamos quase com desprezo, vai se tornando cada vez mais fundamental para que possamos nos posicionar em relação a políticas públicas e tomar decisões que afetam nossa saúde e bem-estar.

NOTA MISERAVELMENTE CAUSTICANTE DESTE BLOGGER :

 Concordo com o articulista que os cientistas precisam se engajar mais e em maior número na causa da educação do público em geral, mas é preciso muito mais honestidade acadêmica, atualmente um artigo muito em falta entre certos cientistas. E também, um pouco de humildade não faria mal, pois atitudes como esta em afirmar nas entrelinhas que a ciência é algo quase transcedente, não angariam muita simpatia do público. É bom recordar que boa parte da ciência como hoje a conhecemos surgiu a partir de uma derivação da chamada cultura humanística - vide Leonardo da Vinci.

Existe sim mais do que drama e beleza nessa empreitada, na luta para compreender o mundo em que vivemos. Existe uma resistência ferrenha pelos que praticam "ciência normal" ( na minha sincera opinião, uma lavagem cerebral vendida como ciência ) e não querem abandonar teorias que foram provadas falidas: eles varrem para debaixo do tapete as anomalias que as teorias não explicam. Ignorar isso sim é denegrir a história da ciência e da civilização. O problema não é somente o não saber. O problema é não querer deixar que os outros saibam que existem limitações e desafios dentro da ciência. É aí que a truculência destes mandatários vira tragédia e um crime contra a ciência, que não precisa de defensores, mas de cientistas de verdade, que sigam as evidências aonde elas forem dar.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sobre o Pseudo-ceticismo

Plublicado no site Cetiscismo Aberto.

Publicado em 9 de agosto de 2009 

Marcello Truzzi, publicado no The Zetetic Scholar, #12-13, 1987


Ao longo dos anos, tenho condenado o mau uso do termo "cético" quando usado para se referir a todos os críticos de alegações sobre anomalias ( leia-se relatos de ocorrencias de coisas paranormais ) . Infelizmente o termo tem sido abusado desta forma tanto por proponentes quanto por críticos do paranormal. Às vezes os usuários do termo distinguem entre os assim chamados céticos "leves" [soft] contra os céticos "duros" [hard], e eu reavivei em parte o termo "zetético" por causa deste mau uso. Mas agora penso que os problemas criados vão além de mera terminologia e a situação precisa ser passada a limpo. Uma vez que "ceticismo" corretamente se refere à dúvida em lugar da negação — não-crença em lugar de crença — críticos que tomam a posição negativa em lugar da agnóstica, mas ainda se chamam "céticos", são de fato pseudo-céticos e têm, creio eu, ganhado uma falsa vantagem usurpando esse rótulo. 


Em ciência, o ônus da prova recai no alegador; e quanto mais extraordinária uma alegação, mais pesado é o ônus da prova exigido. O verdadeiro cético toma uma posição agnóstica, uma que diz que a alegação não está provada em lugar de desprovada. Ele afirma que o alegador não sustentou o ônus da prova e que a ciência deve continuar construindo seu mapa cognitivo da realidade sem incorporar a alegação extraordinária como um "fato" novo.

Considerando que o verdadeiro cético não faz uma alegação, ele não tem nenhum ônus para provar qualquer coisa. Ele apenas continua usando as teorias estabelecidas da "ciência convencional" como sempre. Mas se um crítico afirma que há evidência para refutação, que ele tem uma hipótese negativa — dizendo, por exemplo, que um aparente resultado psi era de fato devido a uma falha nos processos de controle ou análise [artifact] — ele está fazendo uma alegação e então também tem que lidar com o ônus da prova.

Às vezes, tais alegações negativas por críticos também são bastante extraordinárias — por exemplo, que um OVNI era de fato um plasma gigantesco, ou que alguém em uma experiência psi obtinha pistas por uma habilidade anormal de ouvir tons altos que outros com ouvidos normais não notariam. Em tais casos o alegador negativo também deve ter que lidar com um ônus de prova mais pesado que o normalmente esperado.

Críticos que fazem alegações negativas, mas que erradamente se chamam "céticos", freqüentemente agem como se não tivessem absolutamente nenhum ônus da prova sobre eles, ainda que tal posição só seria apropriada para o cético agnóstico ou verdadeiro. Um resultado disto é que muitos críticos parecem sentir que só é necessário apresentar um caso para sua contra-alegação fundado em plausibilidade em lugar de evidência empírica. Assim, se pode ser demonstrado que um indivíduo em uma experiência psi teve uma oportunidade para fraudar, muitos críticos parecem assumir não somente que ele provavelmente fraudou, mas que deve ter fraudado, apesar do que pode ser uma ausência completa de evidência de que ele realmente fraudou e algumas vezes até mesmo ignorando evidência da reputação de honestidade prévia do indivíduo.

Similarmente, às vezes procedimentos de randomização impróprios são assumidos como sendo a causa de indicadores psi altos de um indivíduo, embora tudo que tenha sido estabelecido seja a possibilidade de que tal efeito tenha sido a causa real. É claro, o peso evidencial da experiência está muito reduzido quando nós descobrimos uma falha em seu projeto que permitiria que um efeito confundisse os resultados. Descobrir uma oportunidade de erro deveria fazer tais experimentos menos evidenciais e normalmente não convincentes. Isso normalmente contesta a alegação de que a experiência era "à prova de erro", mas não contesta a alegação de anomalia.

Mostrar que uma evidência não é convincente não é suficiente para descartá-la completamente. Se um crítico afirma que o resultado era devido à falha X, esse crítico tem então o ônus da prova de demonstrar que a falha X pode e provavelmente produziu tal resultado sob tais circunstâncias. É verdade que em alguns casos a atração pela mera plausibilidade de que uma falha produziu o resultado pode ser tão grande que quase todos aceitariam o argumento; por exemplo, quando nós descobrimos que alguém que fraudou no passado teve uma oportunidade de fraudar neste caso, poderíamos concluir razoavelmente que ele provavelmente também fraudou desta vez.

Mas em muitos casos o crítico que faz um argumento meramente plausível para uma falha fecha a porta em pesquisas futuras quando a ciência apropriada exige que sua hipótese de uma falha também deveria ser testada. Desafortunadamente, a maioria dos críticos parece feliz em sentar em suas poltronas produzindo explicações post hoc. Seja que lado termine com a história verdadeira, a ciência progride melhor através de investigações em laboratório.

Por outro lado, proponentes de uma alegação de anomalia que reconhecem a falácia anterior podem ir muito longe na outra direção. Alguns argumentam, como Lombroso quando ele defendeu a mediunidade de Palladino, que a presença de peruca não nega a existência de cabelo de verdade. Todos nós temos que nos lembrar de que a ciência pode nos contar o que é empiricamente improvável, mas não o que é empiricamente impossível.

Evidência em ciência sempre é uma questão de grau e raramente é, se é que é alguma vez, absolutamente conclusiva. Alguns proponentes de alegações de anomalias, como alguns críticos, parecem pouco dispostos em considerar evidências em termos probabilísticos, agarrando-se a qualquer fio solto como se o crítico tivesse que contestar toda a evidência avançada para uma alegação particular. Tanto críticos quanto proponentes precisam aprender a pensar em adjudicação na ciência mais como a encontrada nos tribunais de lei, imperfeita e com graus variados de prova e evidência. Verdade absoluta, como justiça absoluta, raramente é alcançável. Nós podemos apenas fazer o melhor que podemos para nos aproximar delas.